Hoje, algo para a galera que fica desesperada por aí para montar uma boa playlist da década que marcou muita gente, mas que ainda mexe no celular toda desajeitada, caçando aqueles nomes e sons que remetem fortemente àquela era, quando todos ficavam meio entorpecidos pelo cheiro brabo de prova de escola rodada no mimeógrafo, ou ficavam na dúvida entre pedir no bar uns cruzeiros de chiclé Ploc, ou Ping Pong (eu preferia o Ploc).
Gente como eu, nascida nos anos 70, e que foi viver boa parte da infância e juventude entre os anos 1980-1990. Agora podem ficar sossegados: seus problemas acabaram, como diria o pessoal do bom e velho Casseta e Planeta.
Essa seleção que segue é pra fazer qualquer marmanjo desabar, se lembrando como foi difícil, naqueles anos, se desvencilhar da morte certa por engasgamento com balinha Soft.
Sim, é óbvio. Se estamos aqui, somos bons, somos guerreiros, e somos sobreviventes! Conseguimos até atravessar uma pandemia. E tantas outras coisas. O que é um vírus diante daquele sempre constante perigo da balinha Soft, ou mesmo do berreiro de dor proporcionado pelo Merthiolate (ou Violeta Genciana), numa ferida após ralar o joelho com um tombo de Caloi, não é mesmo?
Não é, de modo algum, uma lista taxativa: temos certeza de que muita coisa boa ficou de fora. Mas é o que melhor visualizamos também, em algumas seleções de canções bem recorrentes e com mais plays, por toda a web.
Concentre então a sua imaginação na imagem de uma bela caneta Bic girando na fitinha K-7, para recuperá-la do enrolamento no tape deck, e bora ver/ouvir alguns dos hinos que recriam totalmente aquela atmosfera de uma época que muita gente nunca, jamais esquecerá.
Drive - The Cars (1984)
Hit imortal daquela que foi simplesmente uma das maiores bandas do movimento pós-punk new wave dos anos 80, essa balada maravilhosa foi uma daquelas músicas do grupo que não estavam entre as várias cantadas pelo seu líder, vocalista e guitarrista Ric Ocasek (falecido em 2019), mas sim, pelo loiro baixista Benjamin Orr (também já falecido, em 2000), dono de uma voz belíssima e muito melódica. O videoclipe é um clássico também, que introduziria para o mundo a supermodelo tcheca Paulina Porizkova, como a interna de um sanatório - e que se tornaria a namorada de longa data de Ric.
I Want to Know What Love Is - Foreigner (1984)
Um dos grandes êxitos que catapultou para o sucesso mundial essa banda de pop hard rock, gênero muito popular no início da década, e que contou com uma preciosa ajuda do coral gospel New Jersey Mass Choir, para o seu grand finale.
Voyage, Voyage - Desireless (1988)
Não houve quem, no final dos anos 80, não dançasse com esse típico representante da tendência technopop decadence do grupo francês Desireless, que acabou tendo apenas esse megahit mundial. Mas que virou uma praga nas boates da época, e no dial do rádio, ah virou mesmo.
Take on Me - A-Ha (1985)
Se há alguém na face da Terra que ainda não ouviu a famosa introduçãozinha, ou tentou acompanhar até não conseguir atingir as notas mais altas do refrão desse clássico do A-Ha, é porque realmente se retirou para algum refúgio inóspito de meditação nos alpes do Himalaia, ou foi abduzido do planeta por um OVNI antes dos anos 80 e nunca mais voltou - mesmo assim, há risco de nesses lugares essa música grudenta ter tocado também. Puro suco dos anos 80, o pop perfeito, na instrumentação tecladeira e na linda voz irrepreensível de Morten Harket - é impossível não se emocionar, sobretudo com o videoclipe misturando storytelling e animação, que também fez história.
Never Say Goodbye - Bon Jovi (1986)
O líder absoluto do pop hard rock poseur e glam dos anos 80 (estilo pejorativamente chamado de "metal farofa", por muitos), com muito cabelão armado de laquê, jeans surrados e jaquetas coloridas, o Bon Jovi tinha que estar nessa lista, com a mega estouradaça balada 'Never Say Goodbye'.
Maria Magdalena - Sandra (1985)
A bela cantora alemã Sandra Cretu, que foi uma das expoentes do estilo new wave em sua terra natal - ao lado da loucona Nina Hagen - arrebentou mundialmente com essa balada dançante, que tocou até furar todos os vinis nas vitrolas brasileiras da época. Super marcante.
Save a Prayer - Duran Duran (1982)
Tendo seu nome inspirado por um dos personagens do insano filme sci-fi 'Barbarella', com Jane Fonda (veja aqui), um dos mais célebres e famosos grupos do movimento new wave, que buscava revitalizar elementos da música pós punk com influências eletrônicas e misturar vários estilos, o Duran Duran teve um de seus grandes sucessos, ainda do seu primeiro disco, com essa fascinante balada hipnótica, que no Brasil foi parar na trilha sonora da famosa novela da Globo, Sol de Verão.
Eyes Without a Face - Billy Idol (1983)
Era impossível assistir o clipe desse icônico hit de Billy Idol, e não dar umas risadinhas na parte, perto do refrão, em que uma sequência de batidinhas da bateria eletrônica é reproduzida pelas modelos no clipe dando tapinhas em seus próprios traseiros - tudo no maior estilo punk brega pop decadente e cheio de exagero, cuja bandeira Idol soube tão bem levantar, ao longo de boa parte de sua carreira depois que se estabeleceu nos EUA; ele era egresso do grupo punk inglês Generation X, com quem já havia feito relativo sucesso em sua terra natal, a Inglaterra. Histórico e hilário.
All Through the Night - Cindy Lauper (1984)
A graciosa Cindy, com sua eterna carinha de boneca fofa e manhosa, tem uma fileira de hits dignos de representar ao máximo os anos 80, o que não é pouco - mas escolhemos essa faixa de seu primeiro disco devido à sonoridade super bem trabalhada nos teclados, e por ter sido simplesmente uma das músicas internacionais mais tocadas no Brasil, naquele ano.
Don't Dream it's Over - Crowded House (1986)
Também fez parte de trilha sonora de novela da Globo, também embalou muitos apaixonados na dancinha agarradinha dos finais de festa da época: esse baita sucesso do grupo Crowded House, especialista em fazer um som rebuscado que emulava o estilo de bandas dos anos 60, mas com uma pegada anos 80.
Lover Why - Century (1986)
O único grande megahit da banda francesa de pop metal Century, que arrepiou geral com a voz rasgada de seu vocalista Jean-Louis Milford, e os devaneios guitarrísticos de Pierre Gauthé - que passou raiva em muito moleque iniciante no instrumento da época, que não conseguia reproduzir aquele solo irado.
Build - The Housemartins (1987)
Essa música faz parte daquela curiosa seleção de canções para as quais ninguém dava bola para o que a letra queria dizer, no Brasil, e eram consideradas 'românticas', porque estavam ligadas à trama amorosa de algum personagem de novela da TV Globo, em que fizeram parte da trilha sonora (nesse caso, Bebê a Bordo). A letra versa sobre a desmedida ambição de empresários do ramo imobiliário, que na época estavam demolindo e construindo edifícios em várias áreas tradicionais do Reino Unido, nada a ver com qualquer tipo de plot romântico. Eram também curiosos os apelidos brasileiros que os radialistas doidos da época davam a esses hits, simplesmente por uma impressão fonética que o refrão ou parte da canção sugeria: aqui, o refrão em que o vocalista canta "bu-bu-bu-build", com forte sotaque do inglês de uma região de Londres, fez com que muitos entendessem como "pa-pa-pa-papel", e pronto, essa bela música ganhou o subtítulo de "Melô do Papel", em nosso Brasilzão. O mesmo ocorreria com o grupo dance Technotronic, e sua "Pump it Up" - virou "melô do poperô".
Total Eclipse of the Heart - Bonnie Tyler (1983)
Isso aqui é mais anos 80 do que muita coisa anos 80. O clipe é uma ousadia, uma coisa de louco: envolve a roucona Bonnie Tyler em uma trama de escola interna, que vira castelo assombrado, alunos vampiros, muito balé "moderno" alucinado dos anos 80, e dá-lhe maquiagem e trajes extravagantes. O rapazinho se revelando no final, cantando em falsete e com os olhos brilhando no sobrenatural, é uma prova convicta de que os clipes dos anos 80 eram uma coisa bizarra, definitivamente não era para os fracos. Derreteu as vitrolas de vinil de muita gente na época, e toca demais em qualquer seção flashback até hoje.
Take My Breath Away - Berlin (1986)
Para as moçoilas que davam aquela suspirada forte apreciando um Tom Cruise todo faceiro, subindo pra fama com o primeiro 'Top Gun - Ases Indomáveis': o peito estufava e encolhia, de tanta paixão. Esta foi a música tema do filme, um fenômeno grudento e cujos acordes iniciais (com aquele sonzão de baixo emulado por um sintetizador, cortesia do compositor e produtor Giorgio Moroder) ainda ecoam bonito na cabeça de muita gente.
Forever Young - Alphaville (1984)
Mais um grupo germânico de pop new wave que fez muito sucesso nos anos 80, com este que é considerado o seu "hino" - chato para alguns (de tanto que tocou, até saturar), mas extremamente significativo e nostálgico, para outros. O Alphaville continua na estrada, até hoje: tocou no Brasil em 1999, e atualmente está em uma turnê gigantesca pela Europa, onde ainda possuem muitos fãs.
We Are the World - USA for Africa (1985)
Para terminar, um dos momentos símbolo dos anos 80, e que foi tema do super assistido documentário The Greatest Night in Pop, em 2024, da Netflix (no Brasil: A Noite que Mudou o Pop), mostrando toda a verdadeira epopeia que foi, para os idealizadores do projeto beneficente USA for Africa (Lionel Ritchie, Michael Jackson, e o produtor Quincy Jones) reunirem uma constelação lendária de estrelas da música pop, da época, para gravar essa música tema, um marco nas canções de tributo a causas humanitárias. O enfeixamento de vozes diversas, que contribuíram para a icônica gravação em uma única noite (!!!), inteiramente registrada em vídeo, é fascinante: além dos próprios Lionel e Michael, gente como Stevie Wonder, Bruce Springsteen, Tina Turner, Bob Dylan, Cindy Lauper, Ray Charles, e et cetera, et cetera... Somente a nata. Todo mundo estava lá. Tocou muito, vendeu muito, marcou e ajudou muita gente. Fez história, e fez os anos 80.
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