quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

O GRAFITE FÍSICO DE GIGANTES

 

Nesse 24 de fevereiro de 2025, faz 50 anos que o Led Zeppelin lançou aquele que é considerado uma de suas obras-primas, e um dos melhores álbuns de rock de todos os tempos: o colossal Physical Grafitti.

Um cinquentenário denota uma passagem de tempo tão avassaladora, em dias atuais, que é absurdo comparar como a indústria da música mudou tanto, de 1975 para cá.

Naquela época, ainda imperava o disco de vinil, como produto fonográfico primordial, e fonte de material para o que seria veiculado nas rádios (outro símbolo do tempo) e nas apresentações ao vivo dos artistas. LP, como gente da minha geração chamava na época, era um troço caro. Era preciso separar caraminguás suados ou estar em data merecedora de presente, para poder levar aquele pedaço de sonho artístico para a sua casa, e para o seu aparelho de som com toca-discos (a "vitrola"). Se comprar um disco só já demandava grana, imagina um álbum-duplo, o preço que era. Música de tudo quanto é tipo e disponível full-time, só em formato virtual e por streaming, tão fácil como temos hoje na internet? - nossa, se você tivesse uma visão profética e dissesse que isso um dia aconteceria, seria chamado de doido.

A capa de Physical Grafitti

O grupo composto pelos hoje lendários Jimmy Page (o líder e guitarrista), Robert Plant (vocalista), John Bonham (baterista) e John Paul Jones (baixista e tecladista) passava, nessa ocasião, a entrar para o seleto time de roqueiros que haviam atingido um certo nível na carreira que representava o status-of-the-art de sua produção, com bala na agulha para se aventurar a gravar e lançar um álbum duplo, que era um projeto com 2 discos de uma vez só, uma megaprodução contendo muito material original e diversificado para mostrar, um feito antes relegado a medalhões como The Beatles, Bob Dylan, Jimi Hendrix e Rolling Stones. Agora, o Led Zep tinha um álbum-duplo para chamar de seu.

Esquerda para a direita: John Paul Jones, Jimmy Page, Robert Plant e John 'Bonzo' Bonham

Assim como em outras vezes, a banda se reuniu em 1974 na inóspita região campestre de Hampshire, na velha mansão Headley Grange, onde já haviam produzido a maior parte das canções do seu disco de 1970, o Led Zeppelin III. Para essa nova empreitada, traziam composições novas, mas também muita coisa que havia sido deixada de fora de trabalhos anteriores, como as pesadas e exuberantes "Houses of the Holy" e "The Rover" (que deveriam ter entrado no disco anterior do grupo) e temas mais ecléticos, como "Down by the Riverside" e "Bron-Yr-Aur" (que deveria ter saído também no terceiro disco, Led Zeppelin 3).




Fazendo parte do material mais novo, estavam a frenética "Trampled Underfoot", com destaque para os entrelaçamentos da guitarra de Page e os teclados de J.P. Jones, o soturno e intenso blues "In My Time of Dying", repleto de viradas e mudanças de tempo e até hoje a mais longa faixa já gravada pela banda, e aquela que rivaliza com o clássico "Stairway to Heaven" como a mais perfeita música já gravada pelo Led Zep, na opinião deles mesmos: a épica e apoteótica "Kashmir", um assalto sensorial e atmosférico inédito na abordagem do grupo, pauleira e ao mesmo tempo inebriada de melodias indianas e místicas. Essa inovadora obra-prima já valeria, por si só, o álbum inteiro. 

Porém há mais: a melancólica "Ten Years Gone", repleta de nuanças e camadas sonoras que vão se sobrepondo umas às outras, de forma surpreendente para o desavisado ouvinte, a viajante e progressiva "In the Light", e o ataque frontal de hard rock puro em "Sick Again". 

Kashmir

Para a também aclamada e criativa capa do álbum (e isso era um conceito artístico que foi se perdendo com a difusão do CD e da música digital, posteriormente), um trabalho do fotógrafo Peter Corriston, com recortes nas imagens das janelas do prédio, que revelavam nomes, expressões e figuras icônicas e marcantes do mundo pop e da história mundial: o astronauta Neil Artmstrong, a Cleópatra de Elizabeth Taylor, Lee Harvey Oswald (o suposto assassino de John Kennedy), o gorila King Kong, a Virgem Maria, e tantos outros... O prédio decadente retratado era o antigo e tétrico St. Mark's Place, do bairro East Village, de New York - que se tornaria famoso também por ser o cenário do clip de "Waiting on a Friend" (1981), dos Rolling Stones, e por lembrar muito o Edifício Dakota, lar de John Lennon na mesma cidade, e na frente do qual ele foi alvejado,  A inspiração inicial foi a capa de um outro disco, Compartments (1972), do violonista latino Jose Feliciano. 

Ten Years Gone

Physical também tinha a primazia de ser o primeiro trabalho do grupo lançado sob o seu selo próprio, a Swang Song - uma mania de muitos artistas daqueles tempos, que tentavam com isso (muitas vezes, frustradamente) obter maior controle sobre a sua produção fonográfica sem as interferências dos selos de grandes gravadoras, possuindo um negócio próprio e mais lucrativo - como os Beatles, com a Apple Music, e os Rolling Stones, com a Rolling Stones Records. Como empresários, no entanto, a maioria desses pop stars acabava invariavelmente se revelando excelentes músicos.

O lançamento do álbum deu partida ao que seria uma das mais ousadas e lucrativas turnês do grupo, com datas em vários lugares da Europa e EUA - e até mesmo o Brasil iria rolar na época, pasmem, tentando entrar na era dos megashows internacionais após o sucesso de Alice Cooper por aqui em 1974, sendo que ocorreram tentativas de negociação de promotores locais com a banda, através do seu rotundo e agressivo empresário Peter Grant e do guitarrista Jimmy Page (que chegaram a vir no Brasil!), mas no final das contas não deu certo trazer eles: a exigência de custos e gastos com o transporte de equipamento e o staff da banda foi considerada excessiva pelos ainda inseguros empresários brasileiros, diante da recente ruína do "milagre econômico" do governo militar, e o medo de prejuízos milionários. 

Plant e Page, com o megaempresário Peter Grant vindo logo atrás

O próprio Peter Grant batia o pé e não admitia concessões, conforme noticiado na revista Pop daquele ano, famosa entre os jovens brazucas, e que havia espalhado a notícia de um possível show: "Se viermos, simplesmente fazemos questão de trazer o mesmo show que fazemos em qualquer parte do mundo... O mesmo som, com a mesma potência, os mesmos canhões de luz a laser, a mesma produção de palco. O Led Zeppelin honra os seus fãs e quer oferecer simplesmente o melhor a eles. Não faz parte de nosso jogo enganar a garotada e tomar o seu dinheiro." 

Uau.

O Led Zeppelin havia provado que atingira o seu máximo, em termos de criatividade, de recordes de vendas de discos e shows, de popularidade, e no quesito gravações: Physical Grafitti passava a ser considerado um clássico instantâneo a partir do seu lançamento. Era o atestado de superioridade e potência de um grupo que construiu sua fama de modo totalmente diferente do que existia antes para os grupos de rock: sem pagamentos de jabá para rádios e nem babação de ovo para programas de televisão, sem dar moral para os ataques gratuitos da imprensa sempre ranzinza, e galgando seus degraus de popularidade no boca-a-boca dos fãs, lançando seus discos sem nenhum compacto ou música de trabalho calculada para fazer sucesso comercial. Tudo era na base do "grave e caia na estrada pro show", simples assim, "o artista tem que ir aonde o povo está", e do jeito que eles bem entendiam, sem ficar tentando adular ninguém, nenhum veículo da mídia.

Sucesso puro e autêntico, como não se vê mais no meio, há muito e muito tempo.

Como sugere o título de uma excelente biografia escrita sobre eles pelo jornalista Mick Wall, uma das melhores da banda, eles eram "gigantes que caminhavam sobre a Terra".

E neste exato momento do aniversário de um de seus trabalhos mais famosos, o grupo passa também por um novo revival midiático, com o lançamento da primeira cinebiografia oficial, que já é sucesso nos cinemas com tecnologia IMAX no mundo inteiro, e deve estrear no Brasil no próximo dia 27 de fevereiro: Becoming Led Zeppelin, um filme que não deve tratar do período de Physical, em que eles já reinavam, mas que trará entrevistas exclusivas e inéditas de todos os membros da banda (incluindo o falecido batera, John Bonham), e uma análise, ricamente ilustrada visual e sonoramente, do início do grupo e a escalada deles rumo à fama (período entre 1968 e 1971).

Physical Grafitti, por sua vez, foi o seu auge e momento absoluto. Depois disso, viria a fase do sinuoso e trágico declínio. Nunca mais as coisas foram as mesmas para o Led Zeppelin.




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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

ERA UMA VEZ... UM CLÁSSICO

 

"Sujeitos como nós tem algo por dentro, Jill
Algo que tem a ver com a morte."
(Cheyenne - personagem de Jason Robards, em 'Era Uma Vez no Oeste')


Um dos causos que o veterano e lendário ator norte-americano Henry Fonda (1905-1982) mais gostava de contar, em suas entrevistas ao longo dos anos 1970, era sobre como havia sido fascinante trabalhar com o diretor italiano Sergio Leone, de forma a desconstruir a sua imagem de "bom mocinho" dos faroestes e filmes mais antigos de sua carreira, encarnando pela primeira vez um vilão cruel e psicótico, e pregando a maior 'trolagem' nas plateias desavisadas. 

Ele relatou essa história em sua famosa entrevista no programa de TV Dick Cavett Show, em 1972, e também para uma equipe de jornalistas, em 1975, de um documentário que estava sendo rodado: "Existia aquela cena em que chegamos, eu sou um matador com um bando de capangas, acabamos de alvejar uma família feliz, o pai e seus três filhos, em uma fazenda remota, somos filmados por trás e chegamos caminhando lentamente perto das vítimas, e Leone faz a câmera vir se aproximando, por trás de mim e se movendo ao meu lado, até se virar e focalizar o meu rosto, de forma que todos no cinema deveriam tomar um susto e gritar: - Meu Deus... É O HENRY FONDA!" .

Ele contava isso e dava uma bela gargalhada logo em seguida.

Desde filmes antológicos do cinema, como Vinhas da Ira (1940) e Paixão dos Fortes (1946), Fonda tinha sido o nice guy, o cara legal, o mocinho que sempre aparecia com bravura e altruísmo para salvar a parada. Mas a sua assombrosa atuação como o facínora Frank, em Era uma Vez no Oeste (Once Upon a Time in the West, ou C'Era Una Volta il West, título original italiano, 1968), acabou com isso de uma vez por todas. 

Para o pessoal da geração mais nova que ainda não viu, ou para quem mais queira conhecer, uma boa notícia é que, depois de uma temporada fora, o filme está de volta ao catálogo da Netflix.

O spaghetti western que seria considerado a obra-prima de Leone também se tornaria revolucionário e inovador em diversos outros quesitos, que lhe regalaram o status de filme cult, logo convertido em um clássico contemporâneo. Ele desconstruía as bases da narrativa comuns ao cinema de faroeste, até então, e parecia criar uma espécie de 'novo espetáculo', silencioso e soturno, mas onde fortes músicas e imagens ecoavam em um ritmo próprio, lento e sinuoso, com uma estrutura estética na qual bandidos e mocinhos jamais antes haviam sido apresentados ao público, não daquela forma. 

Depois do sucesso avassalador da sua "trilogia dos dólares", em parceria com o ator Clint Eastwood (matéria especial aqui), o diretor Sergio Leone era aclamado como um dos mais criativos e bem-sucedidos artesãos da Sétima Arte na Europa, e o mercado norte-americano passou a disputar o seu passe para uma próxima produção. Mediante uma oferta polpuda da produtora United Artists (famosa pelos filmes do James Bond 007), Leone acabou recusando para aceitar os 3 milhões de dólares propostos pela Paramount Pictures, que eram um pouco menos do que a UA oferecia, mas em troca, lhe dava o que ele mais prezava: liberdade criativa, de roteiro e de contratação da equipe e elenco que ele bem entendesse para o seu próximo filme, cujas filmagens deveriam começar por volta de março de 1968.

Henry Fonda, como Frank

Leone preparou correndo um script de 400 páginas com a ajuda de Sergio Donatti, baseado em uma história original desenvolvida por ele mesmo juntamente com seus colegas Dario Argento e Bernardo Bertolucci (futuros nomes de peso no cinema italiano), e do qual, surpreendentemente, apenas 14 páginas continham diálogos, sendo o restante descrições detalhadas de cenas, frases de efeito, ambiências e situações, que já davam uma noção do quão épica aquela narrativa pretendia ser: uma história de vingança de um "estranho sem nome" (mais um) contra um desafeto do passado, que cruza o caminho de uma viúva que herda uma grande propriedade no deserto, por onde irá passar uma nova ferrovia, motivo de cobiça e disputa entre poderosos. 

Harmonica (Charles Bronson) dá uma bela encarada em Jill (Claudia Cardinale)

Contada assim, parece ser uma história por demais mundana, simplória até. Mas aí reside a genialidade e o arrojo de Leone, ao criar camadas cinematográficas visuais e sonoras que preenchem o roteiro, e de uma beleza plástica tão impactante, que o espectador imerge em um velho mundo de foras-da-lei em decadência, dando lugar à nascente civilização americana, de uma forma praticamente impossível de não se emocionar.

Claudia Cardinale, como Jill McBain

Para o papel do pistoleiro procurando vingança, o lacônico personagem simplesmente denominado Harmônica (por estar sempre com uma na boca, soprando notas ameaçadoras), Leone tentou mais uma vez recorrer a Eastwood - entretanto, este já estava dando largada ao seu megaestrelato em Hollywood, finalmente despontando no cinema americano, e friamente lhe respondeu: "No more Italian westerns, Sergio" (Chega de faroestes italianos, Sergio). A escolha que provaria ser a mais acertada recairia, então, sobre outro ator que havia sido um eterno coadjuvante no cinema americano, mas que recentemente havia roubado o destaque em um filme francês chamado 'Adeus, Amigo', onde contracenara com Alain Delon: ninguém menos que Charles Bronson. Para o papel do assustador bandidão Frank, finalmente fora contratado o já citado Henry Fonda - um ídolo, que era sonho de consumo de Leone para seus faroestes desde que ele iniciara a carreira de cineasta, e para o qual os 250.000 dólares de seu cachê podiam agora ser pagos pela Paramount. Para o papel de Cheyenne, líder de uma gangue que é confundido com Frank e que acaba servindo como um coadjuvante de peso e alívio cômico da trama, outro grande ator americano da época foi recrutado: Jason Robards. E para o papel da viúva Jill, importantíssimo para a trama, fora chamada uma atriz que, na época, só perdia para Sophia Loren como símbolo da beleza europeia: a estonteante Claudia Cardinale

Cheyenne (Jason Robards) observa  Harmonica (Bronson) tocando o seu instrumento

Havia ainda um pequeno núcleo de personagens ligados ao bando de pistoleiros de Frank, que recebia ordens e grana do personagem Morton, interpretado pelo célebre ator italiano Gabrielle Ferzetti: uma figura de relevo, que servia para representar o progresso das estradas de ferro, com seus empresários endinheirados chegando e modernizando tudo, transformando ranchos e vilarejos em cidades, e dando fim à era mítica dos cowboys.

Harmonica, Frank, Jill e Cheyenne: em suma, esse era o quarteto cujas vidas se cruzavam tragicamente, e que conduzia a narrativa que estampava a morte e o confronto iminente a cada ampla tomada, cada longa e silenciosa sequência onde os tradicionais close ups dos personagens eram explorados, revelando, com semblantes e expressões tocantes, tudo aquilo que os esparsos diálogos estavam fadados a não entregar. Mas a música, em vários desses extensos e contemplativos takes, também aparecia - e era, mais uma vez, do habitual colaborador de Leone, o maestro (mestre) Ennio Morricone.

Assim como nos faroestes anteriores de Leone, a música de Morricone era uma personagem a parte, por si só. Mas aqui ele se superou: os 3 temas musicais predominantes de 'Era Uma Vez' - um centrado no confronto entre Harmonica e Frank, outro baseado no personagem Cheyenne, e o principal, dedicado à personagem Jill, belíssimo e muito famoso - eram poderosos, e constituem algumas das composições mais lindas, trágicas e melancólicas já criadas para um filme de western. Como bem pontuou um crítico da época: "o filme de Leone é uma ópera da morte, do fim de uma era, em que seus personagens vão caminhando rumo à inevitabilidade de seus destinos, com uma triste beleza de suas visões sobre aquilo que não conseguem mudar".

O tema principal de Jill, em 'Era Uma Vez no Oeste' (Ennio Morricone & orquestra, 1968)

Curiosamente, quando foi lançado, em dezembro de 1968, e ao contrário do que se pensa hoje, 'Era Uma Vez...' não foi um grande sucesso - apenas na Itália e na França, onde foi imediatamente considerado um clássico pelo público e crítica especializada, e teve uma bilheteria monstruosa. Nos EUA, país onde Leone achava que o filme iria arrasar, acabou com um faturamento tímido de apenas 1 milhão e meio de dólares - fracasso, se formos considerar que os custos finais com a produção do filme acabaram chegando na casa dos 5 milhões. Isso acabou fazendo com que a Paramount desrespeitasse o conceito original de Leone, e o filme tivesse cortes, devido à sua longa duração original (170 min.), sendo adulterado e modificado para futuros relançamentos e tentativas de êxito em outros mercados. 

Tudo isso causou uma amargura tão forte em Leone, que esse filme brilhante infelizmente se tornou, ao mesmo tempo, um das mais perfeitas e mais frustrantes obras para o seu criador, o condenando a um limbo de reclusão, do qual ele sairia e voltaria a se dedicar a novos projetos apenas uns bons anos depois. O seu último grande ato, que é considerado uma espécie de "resposta" dele a Hollywood depois de suas decepções, é um épico de gangsters de 1984, 'Era Uma Vez na América', com Robert DeNiro e James Woods, e seria finalizado por ele poucos dias antes de sua morte. 

E em toda essa trama incrivelmente poética sobre o fim dos homens com revolveres ("uma raça antiga", como diz o personagem de Bronson, a certa altura), com seus personagens ameaçadores e heroicos, acabamos concluindo, após o inevitável duelo fatídico e as cenas de adeus pungentes e inevitáveis em seu desfecho, que a verdadeira personagem principal era, de fato, a viúva Jill - e aqui vai todo o mérito para os inesquecíveis e comoventes olhares lânguidos da musa Claudia Cardinale, em suas cenas finais. 

Cabe lembrar que não era exatamente novidade deslocar o protagonismo de um western para a figura feminina: apesar de sua fama de inovador, Leone sabia muito bem surrupiar e esconder suas inspirações, e bebia de muitas fontes de faroestes clássicos do passado, como Johnny Guitar (1954) e O Proscrito (1943): histórias que de certa forma moldaram a personagem de Jill, onde mulheres fortes também conduziam a narrativa e mostravam que, se aquele mundo de homens brutos e perigosos se movia, entre dólares, mortes e desejos, era instintivamente por causa delas, e para elas. 

Que bela homenagem às mulheres que Leone prestaria, afinal.




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