quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

ERA UMA VEZ... UM CLÁSSICO

 

"Sujeitos como nós tem algo por dentro, Jill
Algo que tem a ver com a morte."
(Cheyenne - personagem de Jason Robards, em 'Era Uma Vez no Oeste')


Um dos causos que o veterano e lendário ator norte-americano Henry Fonda (1905-1982) mais gostava de contar, em suas entrevistas ao longo dos anos 1970, era sobre como havia sido fascinante trabalhar com o diretor italiano Sergio Leone, de forma a desconstruir a sua imagem de "bom mocinho" dos faroestes e filmes mais antigos de sua carreira, encarnando pela primeira vez um vilão cruel e psicótico, e pregando a maior 'trolagem' nas plateias desavisadas. 

Ele relatou essa história em sua famosa entrevista no programa de TV Dick Cavett Show, em 1972, e também para uma equipe de jornalistas, em 1975, de um documentário que estava sendo rodado: "Existia aquela cena em que chegamos, eu sou um matador com um bando de capangas, acabamos de alvejar uma família feliz, o pai e seus três filhos, em uma fazenda remota, somos filmados por trás e chegamos caminhando lentamente perto das vítimas, e Leone faz a câmera vir se aproximando, por trás de mim e se movendo ao meu lado, até se virar e focalizar o meu rosto, de forma que todos no cinema deveriam tomar um susto e gritar: - Meu Deus... É O HENRY FONDA!" .

Ele contava isso e dava uma bela gargalhada logo em seguida.

Desde filmes antológicos do cinema, como Vinhas da Ira (1940) e Paixão dos Fortes (1946), Fonda tinha sido o nice guy, o cara legal, o mocinho que sempre aparecia com bravura e altruísmo para salvar a parada. Mas a sua assombrosa atuação como o facínora Frank, em Era uma Vez no Oeste (Once Upon a Time in the West, ou C'Era Una Volta il West, título original italiano, 1968), acabou com isso de uma vez por todas. 

Para o pessoal da geração mais nova que ainda não viu, ou para quem mais queira conhecer, uma boa notícia é que, depois de uma temporada fora, o filme está de volta ao catálogo da Netflix.

O spaghetti western que seria considerado a obra-prima de Leone também se tornaria revolucionário e inovador em diversos outros quesitos, que lhe regalaram o status de filme cult, logo convertido em um clássico contemporâneo. Ele desconstruía as bases da narrativa comuns ao cinema de faroeste, até então, e parecia criar uma espécie de 'novo espetáculo', silencioso e soturno, mas onde fortes músicas e imagens ecoavam em um ritmo próprio, lento e sinuoso, com uma estrutura estética na qual bandidos e mocinhos jamais antes haviam sido apresentados ao público, não daquela forma. 

Depois do sucesso avassalador da sua "trilogia dos dólares", em parceria com o ator Clint Eastwood (matéria especial aqui), o diretor Sergio Leone era aclamado como um dos mais criativos e bem-sucedidos artesãos da Sétima Arte na Europa, e o mercado norte-americano passou a disputar o seu passe para uma próxima produção. Mediante uma oferta polpuda da produtora United Artists (famosa pelos filmes do James Bond 007), Leone acabou recusando para aceitar os 3 milhões de dólares propostos pela Paramount Pictures, que eram um pouco menos do que a UA oferecia, mas em troca, lhe dava o que ele mais prezava: liberdade criativa, de roteiro e de contratação da equipe e elenco que ele bem entendesse para o seu próximo filme, cujas filmagens deveriam começar por volta de março de 1968.

Henry Fonda, como Frank

Leone preparou correndo um script de 400 páginas com a ajuda de Sergio Donatti, baseado em uma história original desenvolvida por ele mesmo juntamente com seus colegas Dario Argento e Bernardo Bertolucci (futuros nomes de peso no cinema italiano), e do qual, surpreendentemente, apenas 14 páginas continham diálogos, sendo o restante descrições detalhadas de cenas, frases de efeito, ambiências e situações, que já davam uma noção do quão épica aquela narrativa pretendia ser: uma história de vingança de um "estranho sem nome" (mais um) contra um desafeto do passado, que cruza o caminho de uma viúva que herda uma grande propriedade no deserto, por onde irá passar uma nova ferrovia, motivo de cobiça e disputa entre poderosos. 

Harmonica (Charles Bronson) dá uma bela encarada em Jill (Claudia Cardinale)

Contada assim, parece ser uma história por demais mundana, simplória até. Mas aí reside a genialidade e o arrojo de Leone, ao criar camadas cinematográficas visuais e sonoras que preenchem o roteiro, e de uma beleza plástica tão impactante, que o espectador imerge em um velho mundo de foras-da-lei em decadência, dando lugar à nascente civilização americana, de uma forma praticamente impossível de não se emocionar.

Claudia Cardinale, como Jill McBain

Para o papel do pistoleiro procurando vingança, o lacônico personagem simplesmente denominado Harmônica (por estar sempre com uma na boca, soprando notas ameaçadoras), Leone tentou mais uma vez recorrer a Eastwood - entretanto, este já estava dando largada ao seu megaestrelato em Hollywood, finalmente despontando no cinema americano, e friamente lhe respondeu: "No more Italian westerns, Sergio" (Chega de faroestes italianos, Sergio). A escolha que provaria ser a mais acertada recairia, então, sobre outro ator que havia sido um eterno coadjuvante no cinema americano, mas que recentemente havia roubado o destaque em um filme francês chamado 'Adeus, Amigo', onde contracenara com Alain Delon: ninguém menos que Charles Bronson. Para o papel do assustador bandidão Frank, finalmente fora contratado o já citado Henry Fonda - um ídolo, que era sonho de consumo de Leone para seus faroestes desde que ele iniciara a carreira de cineasta, e para o qual os 250.000 dólares de seu cachê podiam agora ser pagos pela Paramount. Para o papel de Cheyenne, líder de uma gangue que é confundido com Frank e que acaba servindo como um coadjuvante de peso e alívio cômico da trama, outro grande ator americano da época foi recrutado: Jason Robards. E para o papel da viúva Jill, importantíssimo para a trama, fora chamada uma atriz que, na época, só perdia para Sophia Loren como símbolo da beleza europeia: a estonteante Claudia Cardinale

Cheyenne (Jason Robards) observa  Harmonica (Bronson) tocando o seu instrumento

Havia ainda um pequeno núcleo de personagens ligados ao bando de pistoleiros de Frank, que recebia ordens e grana do personagem Morton, interpretado pelo célebre ator italiano Gabrielle Ferzetti: uma figura de relevo, que servia para representar o progresso das estradas de ferro, com seus empresários endinheirados chegando e modernizando tudo, transformando ranchos e vilarejos em cidades, e dando fim à era mítica dos cowboys.

Harmonica, Frank, Jill e Cheyenne: em suma, esse era o quarteto cujas vidas se cruzavam tragicamente, e que conduzia a narrativa que estampava a morte e o confronto iminente a cada ampla tomada, cada longa e silenciosa sequência onde os tradicionais close ups dos personagens eram explorados, revelando, com semblantes e expressões tocantes, tudo aquilo que os esparsos diálogos estavam fadados a não entregar. Mas a música, em vários desses extensos e contemplativos takes, também aparecia - e era, mais uma vez, do habitual colaborador de Leone, o maestro (mestre) Ennio Morricone.

Assim como nos faroestes anteriores de Leone, a música de Morricone era uma personagem a parte, por si só. Mas aqui ele se superou: os 3 temas musicais predominantes de 'Era Uma Vez' - um centrado no confronto entre Harmonica e Frank, outro baseado no personagem Cheyenne, e o principal, dedicado à personagem Jill, belíssimo e muito famoso - eram poderosos, e constituem algumas das composições mais lindas, trágicas e melancólicas já criadas para um filme de western. Como bem pontuou um crítico da época: "o filme de Leone é uma ópera da morte, do fim de uma era, em que seus personagens vão caminhando rumo à inevitabilidade de seus destinos, com uma triste beleza de suas visões sobre aquilo que não conseguem mudar".

O tema principal de Jill, em 'Era Uma Vez no Oeste' (Ennio Morricone & orquestra, 1968)

Curiosamente, quando foi lançado, em dezembro de 1968, e ao contrário do que se pensa hoje, 'Era Uma Vez...' não foi um grande sucesso - apenas na Itália e na França, onde foi imediatamente considerado um clássico pelo público e crítica especializada, e teve uma bilheteria monstruosa. Nos EUA, país onde Leone achava que o filme iria arrasar, acabou com um faturamento tímido de apenas 1 milhão e meio de dólares - fracasso, se formos considerar que os custos finais com a produção do filme acabaram chegando na casa dos 5 milhões. Isso acabou fazendo com que a Paramount desrespeitasse o conceito original de Leone, e o filme tivesse cortes, devido à sua longa duração original (170 min.), sendo adulterado e modificado para futuros relançamentos e tentativas de êxito em outros mercados. 

Tudo isso causou uma amargura tão forte em Leone, que esse filme brilhante infelizmente se tornou, ao mesmo tempo, um das mais perfeitas e mais frustrantes obras para o seu criador, o condenando a um limbo de reclusão, do qual ele sairia e voltaria a se dedicar a novos projetos apenas uns bons anos depois. O seu último grande ato, que é considerado uma espécie de "resposta" dele a Hollywood depois de suas decepções, é um épico de gangsters de 1984, 'Era Uma Vez na América', com Robert DeNiro e James Woods, e seria finalizado por ele poucos dias antes de sua morte. 

E em toda essa trama incrivelmente poética sobre o fim dos homens com revolveres ("uma raça antiga", como diz o personagem de Bronson, a certa altura), com seus personagens ameaçadores e heroicos, acabamos concluindo, após o inevitável duelo fatídico e as cenas de adeus pungentes e inevitáveis em seu desfecho, que a verdadeira personagem principal era, de fato, a viúva Jill - e aqui vai todo o mérito para os inesquecíveis e comoventes olhares lânguidos da musa Claudia Cardinale, em suas cenas finais. 

Cabe lembrar que não era exatamente novidade deslocar o protagonismo de um western para a figura feminina: apesar de sua fama de inovador, Leone sabia muito bem surrupiar e esconder suas inspirações, e bebia de muitas fontes de faroestes clássicos do passado, como Johnny Guitar (1954) e O Proscrito (1943): histórias que de certa forma moldaram a personagem de Jill, onde mulheres fortes também conduziam a narrativa e mostravam que, se aquele mundo de homens brutos e perigosos se movia, entre dólares, mortes e desejos, era instintivamente por causa delas, e para elas. 

Que bela homenagem às mulheres que Leone prestaria, afinal.




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sábado, 25 de janeiro de 2025

AS INFLUÊNCIAS LITERÁRIAS DE JIM MORRISON

 

'Conte-me onde sua liberdade repousa
As ruas são campos que nunca morrem
Liberte-me das razões pois
Você prefere chorar,
Eu prefiro voar'

(The Crystal Ship - 'O navio de cristal': disco The Doors, de 1967)


James Douglas Morrison (1943 - 1971), ou simplesmente Jim Morrison, o icônico vocalista, letrista e figura pop performática do grupo norte-americano The Doors, arautos contra culturais dos desvairados anos 60, passou a permanentemente se preocupar, a partir de certa altura de sua curta carreira, em relevar mais o caráter literário e intelectual de seu trabalho, como poeta e escritor, do que em continuar sendo somente o sex symbol rebelde vestido de couro, guinchando ou cantando sensualmente, e se esgueirando de modo inebriante e hipnótico diante do microfone, como nas mais intensas apresentações de palco de sua banda.

The Doors

Para Morrison, a partir de 1970, aquelas performances para prender a atenção da plateia eram águas passadas, principalmente a partir do escândalo em grandes proporções que foi o polêmico (e hoje lendário) show deles em Miami, de 1969 (veja mais sobre aqui). Em seu íntimo, para si próprio, ele ainda era o menino que havia crescido sob óculos, um tanto gordinho e tímido quando adolescente, e verdadeiro rato de biblioteca no colégio, explorando as prateleiras, lendo livros estranhos e recitando poesias sombrias e arcaicas que ninguém queria enfrentar.

Morrison e os Doors no hipnótico e avassalador show no Hollywood Bowl, de 1968



Quando se fala em reminiscências de grandes autores nas letras de Morrison, o primeiro nome que vem na cabeça é inevitavelmente do grande bardo inglês William Blake (1757 - 1827), cujo livro 'The Marriage of Heaven and Hell' (O casamento do céu e inferno), repleto de aforismos do autor acerca dos mistérios do homem e da natureza, propõe a seguinte afirmação: "Se as portas da percepção fossem descerradas, todas as coisas apareceriam para o homem como realmente são, infinitas". E daí veio a inspiração para o nome da banda de Morrison: The Doors (as portas).

A escrita de Morrison bebe diretamente na fonte de Blake, que tanto em prosa quanto em verso, elucubra imagens mentais contundentes no leitor, com sentenças cadenciadas repletas de força e sugestão. Não é a toa que, em uma das primeiras apresentações profissionais de Morrison com os Doors, ainda em 1966 na casa de shows de Los Angeles que os popularizou (Whiskey a Go-Go), o cantor recitaria durante as músicas dezenas de sentenças de Blake, tiradas do 'Casamento do Céu com o Inferno'... Infelizmente, não existem registros gravados desses instigantes concertos.


'Agora a serpente sorrateira anda
Em suave humildade
E o homem justo se enraivece
Em terras remotas onde perambulam leões'
(Blake)


'Alguns bandidos viviam ao lado do lago
A filha do ministro está apaixonada pela cobra
Que vive em um poço ao lado da estrada
Acorde, garota! Estamos chegando em casa'
(Morrison)


William Blake

Notáveis as métricas eloquentes dos versos de Blake e de Morrison, que volta e meia, invocavam forças ocultas de monstros e criaturas selvagens, como metáforas da crueldade humana - em alguns momentos, como nesse extrato de 'Casamento' (Blake) e da letra de 'Celebração do Rei Lagarto' (Morrison), as narrativas parecem complementares. Como poeta e também ilustrador do movimento romântico do séc. XIX, William Blake era um artífice de panoramas visuais com as suas palavras, e exercia enorme influência nos poemas compostos por Morrison, que a seguir eram musicados pela banda. Outra de suas famosas obras, que eram tanto escritas quanto ilustradas pelo mesmo, e da qual Morrison sabia longos trechos de cor, era 'Songs of Innocence' (Canções da Inocência).

O poema 'Spring', na versão original de "Canções da Inocência", escrito e desenhado por W. Blake

Tanto Blake quanto Morrison evocam imagens idealizadas de um mundo idílico, as sombras da alma que se opõem ao Éden imaculado, em toda a sua pureza inicial (O 'Paraíso Perdido', de Milton - poema épico de 1667), e que nada mais são do que a representação do homem atual, corrompido e degradado, o “civilizado ameaçador”, cujos sorrisos são esgares tão falsos e mortais quanto a lâmina! Cuidado com eles, diria Morrison... prefira os amigos rudes mas simples de coração, e sinceros, do que os "gigantes" educados e poderosos...


'Chega de dinheiro, chega de luxos

Este outro reino é de longe melhor (...)

Não irei aí

Prefiro um festim de amigos

Do que uma família de gigantes'


(The Severed Garden - 'O jardim cortado', J. Morrison)



Blake e Morrison tentam manter essa candura dos fortes de espírito e selvagens de coração, até mesmo enquanto infantes no alvorecer de suas consciências: Blake conta que tinha visões, enquanto criança, de anjos vagando entre os trabalhadores rurais da fazenda onde ele morava. Ouvia vozes, falava de uma percepção aguçada de sentir e ver coisas além da nossa compreensão. Da mesma forma, Morrison passaria a embaralhar sonho com realidade, ao fazer o relato de um episódio em que ele, quando menino, ao viajar de carro com os pais, se depara com um acidente terrível com um caminhão de índios na estrada, vê vários deles mortos, os corpos estirados no asfalto, e afirma que o espírito de um deles "pulou" para dentro dele, e o acompanharia pelo resto dos seus dias - essa alma indígena era o seu "eu artístico", que se manifestava em letras e nas viagens de peyote e LSD que Morrison faria, na fase inicial de sua carreira, inspirando partes de suas músicas e a dança xamânica que certas vezes praticava nos palcos (vide a performance de "The End" dos Doors, no show do Hollywood Bowl em Los Angeles, 1968).

Mas não só de Blake vivia Morrison. Outro autor "maldito" que ele adorava ler era o errático poeta, ensaísta e crítico francês Charles Baudelaire (1821 - 1867), o homem que elevou o binômio poesia/boemia a novos patamares em sua época, e fez da rebeldia e transgressão as suas marcas registradas diante da puritana elite burguesa, para o horror da sociedade da época; e obviamente, isso era uma das coisas que mais atraía a atenção do jovem e contestador Jim Morrison também.

Retrato de Baudelaire, tirado em 1865, dois anos antes de sua morte

Considerado a contrapartida do americano Walt Whitman no referente ao simbolismo e nascimento da poesia moderna, por incorporar diversos elementos da realidade e da vida e paradigmas do próprio autor em suas obras, Baudelaire começou arrepiando já em tenra idade, quando foi expulso de um dos mais renomados colégios de Paris por se recusar a mostrar um bilhete que lhe fora passado por um colega. Foi enviado pelo padrasto para uma temporada na Índia aos 19 anos, onde deveria viver sob a batuta de tutores austeros para corrigir seus modos viciosos - mas nunca chegou lá, conseguiu fugir escondido e, de volta a Paris, viveu em bares e bordéis até atingir a maioridade e ter acesso à herança do pai, que só não foi completamente dilapidada na esbórnia pois sua mãe conseguiu processá-lo na justiça como filho pródigo, incapaz de gerir seus bens, que passaram a ser controlados por um tabelião.

Às voltas com Jeanne Duval, uma decadente atriz haitiana que foi morar em Paris em 1842, musa de Baudelaire e com quem ele manteve um longo e conturbado romance durante vinte anos, ele lança aquela que é considerada a sua obra-prima em 1857, o escandaloso 'As Flores do Mal': revolucionária coleção de 100 poemas do autor que inauguram o estilo simbolista, e versam sobre temas como o pecado, o desejo, os vícios e o erotismo intenso - em suma, tudo o que Baudelaire vivia, mas de forma incrivelmente poética. O livro é considerado uma das obras mais ultrajantes da França, e acaba sendo censurado e retirado de circulação pelas autoridades: Baudelaire é condenado a pagar 300 francos de multa, e a editora Poulet-Malassis, mais 100, levando o seu dono à falência e a um auto imposto exílio.



A escrita simbolista e erótica de Baudelaire exercia influência nas letras e performances carregadas de teor sexual de Morrison e seus asseclas, os "reis do rock orgástico de Los Angeles" (segundo uma publicação da época)

Já no percurso final de sua vida, Baudelaire tentou uma espécie de "redenção", e se inscreveria para fazer parte da Academia Francesa de Letras, buscando um renome e reconhecimento que o fizessem tanto ser perdoado e reabilitado aos olhos de sua mãe (assim conseguindo, também, mais dinheiro), como ao mesmo tempo ser melhor apreciado pelo público e a burguesia em geral, para quem ele ainda carregava a pecha de "vulgar" e obsceno. Mas não teve muito prazo para isso: nessa época, em março de 1866, ele começa a apresentar os primeiros sintomas de afasia (perturbação mental que causa distúrbios na comunicação, o mesmo caso do famoso ator Bruce Willis) e também hemiplegia (paralisação de partes do corpo), logo tidas como consequências diretas de uma sífilis contraída anos antes, que avançava cada vez mais em seu organismo. 

Baudelaire falece em 31 de agosto de 1867, aos 46 anos. Em Morrison, a vivacidade de suas linhas e estrofes inebriadas de libido e exuberância, também conjugando os signos da natureza e as coisas do instinto animal (também tão caras a Blake), ressoariam plenamente.


'Cibele então fecunda em frutos generosos,
Nos filhos seus não via encargos onerosos:
Qual loba fértil em anônimas ternuras,
Aleitava o universo com as tetas duras.
Robusto e esbelto, tinha o homem por sua lei
Gabar-se das belezas que o sagravam rei,
Sementes puras e ainda virgens de feridas,
Cuja macia tez convidava às mordidas!'

(Trecho de 'Correspondências' - As Flores do Mal, C. Baudelaire, 1857)

Outra influência cara a Jim Morrison era o filósofo alemão Friederich Nietzche (1844 - 1900, recentemente abordado aqui).

Numa evolução lógica de ideias que se comunicavam e levavam a um ponto em comum para Morrison, vislumbramos em Nietzche aquela concepção de um mundo original onde a verdadeira natureza do homem é aquela não corrompida pela força gregária, a opressão do indivíduo pelo coletivo, o que para o autor, se resume na mais nefasta ação do Estado - "o mais feio dos monstros feios" - sobre o indivíduo, as formas de poder conjeturadas para retirar dele toda a sua integridade e personalidade. "O Estado Ideal é uma ideia que busca agrilhoar o ser humano em uma vida massificada".

Morrison no estúdio, durante as gravações de 'The Changeling' - disco L.A. Woman, 1971

As teses libertárias do autor, de se opor a toda e qualquer forma de dogma ou opressão, e se redescobrir como ser plenamente livre (o conceito do "super-homem" de Nietzche) estavam presentes em fortes composições de Morrison, como "When the Music's Over", "Five to One", e "The Changeling" - com suas corrosivas alusões ao cara que não se prende a nada e a lugar nenhum:

'Eu vivo na periferia
Eu vivo no centro
Eu vivo em tudo quanto é canto
Eu tinha dinheiro, e não tinha nada
Mas nunca fiquei quebrado
A ponto de não sair pra outra parada'

(The Changeling - 'O inconstante', J. Morrison)

Nietzche

'Três metamorfoses do espírito vos menciono: de como o espírito se muda em camelo, e em leão o camelo, e em criança, finalmente, o leão!

O espírito tornado besta de carga atira sobre si todos estes pesados fardos; e igual ao camelo, que se apressa para alcançar o deserto, também ele se apressa para alcançar o seu deserto.

E lá, na solidão extrema, produz-se a segunda metamorfose; o espírito torna-se leão; quer conquistar a liberdade, e ser amo em seu próprio deserto.

Inocência é a criança, o esquecimento, novo começar, jogo, roda que gira sobre si mesma, primeiro movimento, santa afirmação. Tendo perdido o mundo, quer ganhar para si o seu mundo.'


(Trechos de 'Assim falou Zaratustra' - Nietzche)

Edição original de 'Also Sprach Zaratustra', de Nietzche

Morrison confabula a liberdade, a metamorfose do ser para o autêntico dono de si, ideia essa trabalhada com afinco por Nietzche no seminal 'Assim Falou Zaratustra' (1883). É o despertar do humano para o retorno ao estado de espírito original e a liberdade total e íntegra, sem concessões.


Chegamos então a um grupo de autores que desenvolve essas mesmas ideias, mas pertencente a um grupo mais contemporâneo e bem mais próximo de Morrison, geograficamente inclusive: estamos falando da geração beatnik, o movimento vanguardista de escritores norte-americanos que, a partir das décadas de 1940 e 1950, exploraria sobremaneira os aspectos de crítica social do sonho americano, o american way of life, suas mazelas e hipocrisias, assim como criaria também uma nova estética na escrita que jogava o texto de forma "jorrada" e frenética na cara do leitor - pra que tanta preocupação com a erudição da linguagem e os padrões formais, escreva como se fala e fale como se escreve, e dá-lhe os lendários Jack Kerouac e Willliam S. Burroughs com os seus incríveis 'On the Road' (Pé na Estrada, 1957) e 'The Naked Lunch' (O Almoço Nu, 1959), livros de prosa fluida e anfetamínica, saída diretamente das ruas, que se comunicavam com os artistas folk das canções de protesto (como Pete Seeger e um certo Bob Dylan), e se tornaram item de cabeceira para para todos aqueles que não se contentavam com o que os professores, pastores, autoridades e demais senhores da sociedade lhes diziam e queriam saber da VERDADE, grafada em maiúsculas.

Jack Kerouac

'Consigo sentir a tocaia se armando, sentir os movimentos da polícia lá fora mobilizando seus informantes demoníacos, cochichando ao redor da colher e do conta-gotas que jogo longe na estação Washington Square; pulo uma roleta, desço dois lances da escadaria de ferro e pego a linha 'A' direto para a parte alta da cidade… Uma bicha jovem e atraente, de cabelo escovinha e jeito de quem saiu de uma universidade de luxo para trabalhar como executivo no mundo da publicidade, segura a porta para mim. Sem dúvida acha que sou uma figura. Sabe como é essa gente: aborda garçons e taxistas falando de ganchos de direita e beisebol, chama o balconista do Nedick pelo nome. Um verdadeiro idiota, cara.'

(Trecho de 'O Almoço Nu' - William S. Burroughs)

William S. Burroughs

Para um ávido e irrequieto Jim Morrison, garoto criado em família conservadora com um pai almirante da Marinha dos EUA, não havia nada mais vibrante e atraente do que aquilo. A fala (e a vida) do jeito que ela é, sem farsas, o desespero pela vontade de viver intensamente sobre a qual aqueles caras falavam, como o desajustado Dean Moriarty do romance 'On the Road' de Kerouac, uma verdadeira máquina de palavras e de atitudes, tão tresloucadas quanto envolventes.

Logo, Morrison se interessa pela poesia louca e incendiária do também beatnik Allen Ginsberg, uma das lendas do movimento com o seu revolucionário poema 'Howl' (Uivo), lançado em 1956, que inaugurava um novo estilo livre e sem amarras, com versos separados apenas por vírgulas e atropelando uns aos outros com ritmo e intensidade, uma inovação estilística que logo iria permear também toda a produção cultural do folk e do rock apenas alguns anos adiante, com o advento da geração hippie:

'Eu vi as melhores mentes da minha geração destruídas pela loucura, famintas histéricas nuas, se arrastando pelas ruas dos negros na madrugada em busca de uma dose feroz, hipsters com cabeças de anjo ardendo pela antiga conexão celestial com o dínamo estelar no maquinário da noite, que na miséria e em farrapos e olhos vazios e chapados sentaram fumando na escuridão sobrenatural dos apartamentos de água fria flutuando pelos topos das cidades contemplando o jazz, que despiram seus cérebros ao Céu sob o El e viram anjos maometanos cambaleando nos telhados iluminados dos cortiços, (...)'

(Trecho de 'Uivo' - Allen Ginsberg)



Jim Morrison passaria os anos finais de sua vida tentando ser reconhecido como escritor sério. Num paradoxo vil com um de seus mestres, Baudelaire, ele sentia que "aprontara" demais enquanto astro do rock, e agora tudo o que queria era sossegar, ler e escrever normalmente, mostrar a sua poesia, chega de polêmicas, e talvez em alguns momentos voltar a cantar, e simplesmente declamar e cantar, também normalmente, fosse com a sua banda ou qualquer outra - a sua saída dos Doors, durante todo o período de lançamento do último álbum deles, o L.A. Woman (1971), já era dada como certa. Mas mesmo depois de partir para o seu idílio amoroso com a namorada Pamela Courson em Paris - férias de duração incerta, para espairar a cabeça e conseguir justamente se concentrar um pouco mais na escrita - Morrison ainda fez uma ligação telefônica para o baterista John Densmore, expressando o seu desejo de retornar e ainda voltar a cantar com eles.

Mas, como é sabido, Paris foi o fim de tudo, em 3 de julho de 1971.

Morrison conseguiu pelo menos, ainda em vida, editar e lançar dois livros completos de antologia de escritos e poesias suas - em alguns casos, letras que deveriam ser de músicas e ensaios inacabados: são The Lords - Notes on Vision, e The New Creatures, ambos de 1969. Em 1978, seus ex-companheiros dos Doors recolheriam gravações de Morrison feitas antes dele partir para Paris, recitando alguns de seus poemas, e gravariam acompanhamentos musicais por cima, lançando o curioso disco An American Prayer - que vendeu pra caramba, mostrando o sempre latente interesse dos fãs por material original do vocalista e seu grupo.

Morrison não presenciou o sucesso dessa empreitada. E nem o reconhecimento tardio pela mídia e pelos estudiosos da literatura americana, a partir dos anos 1980/90, de que a sua poesia se tornaria seriamente considerada uma das mais instigantes e visionárias já produzidas no século XX.


Já não temos dançarinos, os possessos.

A clivagem dos homens em atores e espectadores

é o fato crucial do nosso tempo.

Obcecam-nos heróis que por nós vivem e nós punimos

Ah! se todas as rádios e televisões fossem

desligadas, e todos os livros e quadros

queimados já, todas as salas de espetáculos encerradas...

Essas artes de viver por procuração...

Contentamo-nos com ofertas, na nossa procura de

sensações.

Deu-se a metamorfose do corpo enlouquecido

pela dança nas colinas

Num par de olhos rasgando a treva.


(Trecho de ‘The New Creatures’, J. Morrison)




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quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

GRANDES MOMENTOS DO PENSAMENTO HUMANO

 

Atravessamos um momento no qual, devido a alterações na interface política das grandes nações, o império das big techs acentua cada vez mais o seu poder sobre a comunicação e o pensamento humanos, com Musk, Zuckerberg e companhia ilimitada colando bonito em Donald Trump, e o inevitável avanço das I.A. (inteligências artificiais), que se torna uma realidade, tão admirável quanto assustadora.

Nesse panorama onde se desenha uma nova ordem mundial, em que o "raciocínio" das máquinas provavelmente atingirá dimensões inimagináveis, influindo cada vez mais na rotina e nos costumes das sociedades, lembremo-nos que, por trás delas (as I.A.), e para que houvesse elas, foi necessário o trabalho engenhoso da inteligência humana. Ora, assim sendo, temos novamente o paradoxo da "criatura/criador", o que em uma visão lógica, nos coloca como sendo, para as máquinas, o que Deus é para nós, correto? Dessa forma, devem a nós a sua existência, e portanto, respeito ao grau de superioridade inerente aos criadores, sendo que criatura se rebelar a ponto que querer superar o criador constitui anomalia existencial, típica de romances como o 'Frankenstein', de Mary Shelley, ou a obra sci-fi 'Blade Runner', do cineasta Ridley Scott (leia mais sobre ele aqui)... Filosofemos, caro(a) leitor(a). Ponto para reflexão.

Mediante tudo isso, é essencial nos lembrarmos do singelo poderio de nossos próprios cérebros, humanos. A perspicácia, o brilho e a complexidade da imaginação e da análise dos seres humanos.

O que temos a demonstrar aqui hoje, como forma de homenagem a esta criatura tão subjugada, menosprezada e esquecida, ultimamente - o ser humano - são autores, pensadores, filósofos, ensaístas, e autênticos investigadores da condição humana que fizeram história e, em poucas palavras, se debruçaram sobre os nossos vícios e virtudes, e as condições ora trágicas, ora cômicas, dessa aventura singela e tão fascinante chamada existência - individual e em sociedade. A seguir, alguns desses grandes momentos do pensamento humano:


"⁠No meu ver o ser humano tem duas saídas para enfrentar o trágico da existência: o sonho e o riso". (Ariano Suassuna)


Ariano Vilar Suassuna
(1924 - 2014) foi um dos nossos maiores intelectuais, filósofos e escritores, autor da famosa obra "Auto da Compadecida" (1955), além de diversos outros romances, contos e escritos, onde desfilava a sua prosa livre e instigante, tão simples quanto rebuscada, calcada na sabedoria raiz do brasileiro nordestino. Aqui, ele nos brinda com esse bálsamo, santo remédio sugerido para enfrentar as durezas da vida.


"A vida é uma constante oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir". (Arthur Schopenhauer)


Conhecido como o pilar do "pessimismo filosófico", o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788 - 1860) calcou seus pensamentos na crença da inevitabilidade das vontades humanas, que sempre conduzem à perpetuação do sofrimento. Suas críticas ácidas à sociedade e seus costumes formam a base para variadas correntes do pensamento niilista, sendo muito interessante para despertar a visão sobre certos aspectos da irrefreável ganância e cobiça humanas - como bem mostra a citada frase acima dele.



"Como são admiráveis as pessoas que não conhecemos bem " (Millôr Fernandes).


Célebre cartunista, humorista, escritor, dramaturgo e jornalista brasileiro, Millôr Fernandes (1923 - 2012) tecia finas e contundentes críticas ao modo de vida e costumes da sociedade - não só da época, mas de hoje também, com uma sagacidade invejável. Aqui, ele desvenda, com ironia letal e em pouquíssimas palavras, a farsa que é construída em torno dos mitos, das pessoas muito populares, lendárias ou endeusadas.



"Nenhuma pessoa tem o poder de ter tudo o que deseja. Mas está em seu poder não querer o que não tem, e fazer bom uso do que tem" (Sêneca)

Lúcio Aneu Sêneca (4 a.C. - 65 d.C.) foi um advogado, filósofo, escritor e jurisconsulto romano, famoso por ter servido ao imperador Nero, e que deixou uma vasto legado de escritos preciosos, com conselhos e observações sobre as relações de poder e as complexidades da condição humana. Aqui, ele tem um momento iluminado refletindo sobre o livre arbítrio que o ser humano tem em relação a suas ambições - e que oferece um paralelo, de certa forma, à reflexão de Schopenhauer citada anteriormente.




"O indivíduo sempre teve que lutar para não ser dominado pela tribo. Se você tentar, ficará sozinho muitas vezes e às vezes assustado. Mas nenhum preço é alto demais para pagar pelo privilégio de possuir a si mesmo". (Nietzsche)


Friederich Wilhelm Nietzche
(1844 - 1900) foi um dos maiores filósofos de todos os tempos. Nascido na região da Prússia (atual Alemanha), ele foi um dos grandes mentores dos primados sobre a vontade de poder do "eu" e da negação do senso comum e das ideias predominantes - apesar disso ter sido descontextualizado e utilizado de forma errônea por ideólogos nazistas na época de Hitler. Tanto é que nesta frase citada acima se concentra um dos seus maiores legados para as suas teses de transcendentalismo e superação do ser como indivíduo, se sobrepondo a todas as normas dos grupos sociais - numa verdadeira viagem individualista rumo ao conhecimento próprio, íntimo e libertador. Quer atentado maior à filosofia nazista, que pregava a total agregação e subserviência de um rebanho dominado por uma doutrina grupal de autoritarismo?


"Um homem pode ser destruído, mas não derrotado". (Ernest Hemingway)


Desde sempre, um dos maiores no panteão sagrado dos grandes escritores da humanidade. Ernest Miller Hemingway (1899 - 1961) foi prolífico jornalista e escritor, figura de protagonismo nos episódios da Guerra Civil Espanhola (quando fez parte de forças republicanas contra o fascismo) e na revolução socialista de Cuba (que se tornara um segundo lar para ele, em seus anos finais). A escrita ácida, corrosiva, e cheia de paixão de Hemingway, também dava lugar ao lirismo do herói comum, aquela pessoa cujo orgulho e caráter são inegociáveis - dentro desse conceito, ele cunhou tal pensamento, que norteia aquele princípio básico de que o corpo, a matéria do homem, isso pode padecer e acabar - mas as suas ideias, a honra e o altruísmo, não.



"Não há nada mais certo que nossos próprios erros. Vale mais fazer e arrepender, que não fazer e arrepender". (Maquiavel)


Tido como um dos grandes filósofos, diplomatas e historiadores da era moderna, Nicolau Maquiavel (1469 - 1527), nascido na Florença (atualmente, Itália) foi um astuto crítico e observador das relações de poder envolvendo monarcas, papas, e aristocratas de toda a espécie, em seu tempo. Seus estudos sobre o comportamento humano em tais situações se tornou tão racional e profundo, que a sua mais reconhecida obra, o livro 'O Príncipe' (1532) é ainda atual e estudado com afinco por filósofos, sociólogos e juristas de toda ordem, até os dias de hoje. Também como mordaz analista do ego, nos legou esse pensamento vigoroso sobre a importância das tentativas e erros.



"Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente torna-se mais uma. O egoísmo unifica os insignificantes". (Shakespeare)


Além de ter escrito obras-primas da literatura inglesa, como 'Romeu e Julieta', 'MacBeth', 'Rei Lear' e 'Hamlet', William Shakespeare (1564 - 1616) deixa cristalizado o senso de magnitude da cordialidade e fraternidade entre as pessoas, nessa máxima.



"A constância é contrária à natureza, contrária à vida. As únicas pessoas completamente constantes são os mortos". (Aldous Huxley)


Oriundo de uma família pertencente à mais alta elite intelectual britânica, Aldous Leonard Huxley (1894 - 1963) se destacou de seus predecessores como escritor e médico, cujo livro 'Admirável Mundo Novo' (1931), baseado em suas experiências enquanto residente na Itália fascista de Mussolini, foi visionário o suficiente para despertar todas as gerações seguintes acerca dos perigos do autoritarismo, das tecnocracias executoras de manipulação cerebral e dominação das massas. Compartilhou com os leitores as suas aventuras químicas e de expansão da consciência, em outro título antológico que marcou época e fez a cabeça de muitos, 'As Portas da Percepção' (1954), onde mais uma vez reforçava a tese expressa em sua frase acima: o ser é um mundo misterioso em movimento (e desenvolvimento), repleto de desejos e contradições - ou seja, para não ser assim, só estando morto mesmo.


"Exige muito de ti e espera pouco dos outros. Assim, evitarás muitos aborrecimentos". (Confúcio)


Talvez o mais antigo pensador aqui citado, o lendário filósofo chinês Confúcio (552 a.C. - 489 a.C.) cunhou inúmeros primados e doutrinações relativas à moral do ser, sua ética, relações sociais e as relevâncias da justiça e da integridade, sendo o fundador do confucionismo - código de valores até hoje muito difundido e executado por muitos povos orientais, tido como autêntica pedra consuetudinária dos saberes e da conduta. Aqui, ele exprime da maneira mais simples possível a receita básica para uma boa convivência com os seus iguais, verdadeiro antídoto contra as frustrações e desilusões - e cada vez menos usado hoje em dia, infelizmente.



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ERA UMA VEZ... UM CLÁSSICO

  "Sujeitos como nós tem algo por dentro, Jill Algo que tem a ver com a morte." (Cheyenne - personagem de Jason Robards, em 'E...