quarta-feira, 16 de outubro de 2024

ALGUMAS DEUSAS ESQUECIDAS DO CINEMA


Há alguns dias atrás, reassisti A Força do Destino (An Officer and a Gentleman), um dos maiores sucessos de bilheteria do cinema em 1982, e que hoje pode ser considerado um pequeno grande clássico, por ter sido o filme que, juntamente com O Gigolô Americano, de 1980, elevou a carreira do então jovem astro Richard Gere à condição de galã e sex symbol. 

Dirigido por Taylor Hackford, é um romance bem engendrado que conseguiu resistir bem à prova do tempo, pois tem críticas sociais a respeito de questões como amizade, nascimento das responsabilidades, maturidade e relacionamentos baseados em interesses que continuam atuais, além de desempenhos notáveis do próprio Gere, do já falecido Louis Gosset Jr. como o durão sargento Foley (Oscar merecidíssimo por esta atuação), e de uma jovem estrela que era sensação na época, como a mocinha que faz par romântico com Gere: Debra Winger.

Hoje muitos podem não se lembrar, ou talvez até nem conheçam, mas Debra era fera naqueles tempos. Primeira coisa que chama a atenção: meu Deus, mas que mulher bonita. Ela era linda, linda! Principalmente nesse papel, a gente vê uma expressividade absurda que ela tinha, a naturalidade para atuar, uma força no olhar e nos gestos e trejeitos, que faziam dela uma presença sempre carismática em tela, altamente magnética. Era também considerada a atriz com a voz mais sexy de toda aquela geração - o que força a gente a sempre querer ver os filmes no som original, sem dublagem, pra poder conferir. E participou de outros grandes sucessos da época, como Cowboy do Asfalto (1981, com John Travolta), e o também oscarizado Laços de Ternura (1983, ao lado de Jack Nicholson e Shirley MacLaine). 

Mas, de repente, Debra foi sumindo aos poucos, não se viu mais nenhuma grande produção com ela no elenco, e ela foi ficando cada vez mais esquecida. O que teria acontecido com ela?

Demi Moore, em 'A Substância' (2024)

Essa questão suscitada após rever um de seus maiores filmes vem à tona e coincide, ainda, com o recente êxito nos cinemas do espantoso filme A Substância (2024), com outra "recentemente sumida" como protagonista, Demi Moore. Não fosse o sucesso que A Substância vem fazendo, poderíamos tranquilamente colocar Moore (outra que estourou, depois quase desapareceu por completo) também na lista que vem a seguir - e a trama do filme, um body horror absurdo onde ela interpreta uma atriz decadente que começa a ser subjugada e menosprezada pela indústria da mídia, por estar envelhecendo e não ser mais considerada bela e relevante, é uma análise terrível e mordaz sobre como a carreira das atrizes no show business é cruelmente atrelada a atributos físicos e estéticos. 

Seja por questões pessoais, familiares, ou sumamente profissionais (mau agenciamento, contratos ruins etc.), aliadas ao fator idade, o mais comum é vermos grandes estrelas que, de repente, caem num ostracismo lamentável, e passam a figurar num outro panteão: a galeria do esquecimento.

A seguir, alguns desses casos.


Debra Winger


Motivadora inicial deste artigo, Debra é conhecida como "a atriz que preferiu desaparecer antes de ser descartada por Hollywood". De personalidade extremamente forte, ela nunca foi considerada uma pessoa fácil pela indústria cinematográfica, e a despeito de suas excelentes atuações (conforme comentado acima), Debra sempre teve uma visão muito ácida e inconformista sobre a realidade do meio artístico e dos grandes estúdios, do qual fazia parte. Concorreu em pé de igualdade com a veterana Shirley MacLaine, pelo Oscar de melhor atriz no filme que fizeram juntas, o famoso e já citado Laços de Ternura, de 1983. Os arranca-rabos entre as duas se tornaram lendários - Shirley, que já era estrela antiga, tentava "limpar os pés" na colega mais jovem e roubar cenas, mas Debra não se rebaixava. Perdeu o Oscar para Shirley, mas não perdeu a dignidade, afirmando ironicamente que foi um prazer trabalhar no filme com o ator Jack Nicholson (de quem se tornaria grande amiga), e nem citando o nome de Shirley... 

Com Robert Redford, em 'Legal Eagles' (1986)

Depois que atuou em Perigosamente Juntos (Legal Eagles, 1986), suas decepções com a fauna de Hollywood foram só aumentando. Durante as filmagens, ocorridas no gélido inverno nova-iorquino, e com imensas pausas por problemas de produção, passava muito frio, e perguntou ao colega de elenco Robert Redford como ele era tão paciente e conseguia ficar calmo e quieto, esperando o diretor chamar para rodar as cenas, ao que ele respondeu: "Eu simplesmente fico calculando todo o dinheiro que essas horas de serviço a mais vão render na minha conta bancária". Foi aí que teve um estalo: procurou saber quanto que Redford estava ganhando por aquela produção. Ao comparar o seu salário, ela sendo mulher, com o do colega (homem), Debra teve o primeiro lampejo de frustração que a faria abandonar tudo. 


Bastou uma experiência seguinte em 1989, numa fracassada produção que deveria se chamar Divine Rupture (filme que contaria com Johnny Depp e Marlon Brando em seu elenco), e que acabou nem sendo filmada por conta de um desvio de dinheiro ocorrido na produtora, para que Debra tomasse de vez a decisão de se retirar do mundo megalomaníaco do showbizz. Ela passou a recusar diversos convites seguintes para grandes produções e a se dedicar cada vez mais à família e ao segundo marido - poderia ter atuado em filmes de sucesso como Veludo Azul (1986), Atração Fatal(1987), Ghost - Do Outro Lado da Vida (1990) e Advogado do Diabo (1993), mas declinou de todos. Acabou se restabelecendo no mercado como uma veterana que, atualmente, apenas faz pontas e papéis coadjuvantes em pequenas produções e filmes e séries para a TV. Sempre que é entrevistada, declara que "o circo" das megaproduções não era mais para ela, e que está muito bem hoje.





Kim Basinger

Todo mundo que gosta pelo menos um pouco de cinema já ouviu falar de um pop-chic sucesso erótico de 1986, na época um fenômeno chamado Nove e Meia Semanas de Amor, filme dirigido pelo publicitário e cineasta Adrian Lyne que foi um dos grandes hits daquele ano, e que jogou lá para o alto a carreira dos dois protagonistas, um casal que se envolve loucamente e embarca numa maratona de... ehr... bem, você deve imaginar, e que tem a duração citada no título do filme. Eram os ainda jovens Mickey Rourke (esse é aquele que, se você ver fotos dele na época, e comparar com o que virou hoje, vai repensar seus conceitos sobre cirurgias plásticas) e a loiríssima atriz Kim Basinger.

Kim Basinger e Mickey Rourke, em 9 e Meia Semanas de Amor (1986)

Kim virou febre em Hollywood - a sex symbol loira que seria alçada a uma condição quase que de Marilyn Monroe da década de 80. Em um determinado período, tudo em que ela participava era sucesso. Ela já havia roubado a cena como bondgirl em um filme paralelo da série 007, com o velho Sean Connery de volta ao papel (Nunca Mais Outra Vez, 1983), e passava a estrelar novos êxitos de bilheteria, com Bruce Willis, em Encontro às Escuras (1987), e como a namorada do Batman, na célebre adaptação para os cinemas feita por Tim Burton,  estrelada por Michael Keaton e Jack Nicholson (Batman, 1989). 

Após mais algumas produções de sucesso, em meados da década de 90, a carreira de Basinger entraria em declínio, com ela enfrentando sério problemas financeiros por ter abandonado a produção do filme de terror Encaixotando Helena (1993), o que a levou a ser processada pelo estúdio em uma rumorosa batalha legal que a onerou em cerca de 3 milhões de dólares, e a levou a ter que se desfazer de algumas propriedades rurais de família. Apesar de todos os problemas, Kim ainda teve um fenomenal êxito com sua atuação em Los Angeles - Cidade Proibida, produção policial de 1997, em que acabou ganhando um Oscar de melhor atriz coadjuvante, por seu papel como a mulher fatal Lynn Bracken.

A partir dos anos 2000, ainda que participasse de alguns filmes muito elogiados pela crítica, e com razoável sucesso de público, as coisas desaceleraram para Kim no mundo artístico, especialmente por ela começar a se preocupar mais em ficar com os filhos e cuidar de negócios da família. 




Nastassja Kinski

De origem europeia (ela é alemã), Nastassja Kinski foi considerada uma das mais belas atrizes de sua geração, e tomou de assalto o mercado ainda no final dos anos 70, estrelando algumas elogiadas produções como Tentação Proibida (1978, na Itália, com Marcelo Mastroianni), e Tess (1979, França, sob a direção de Roman Polanski). Com o alarde em torno de sua beleza e talento para a arte dramática, logo ela adentraria o cenário norte-americano: atuou em A Marca da Pantera (1982), Os Amantes de Maria (1984) e Paris, Texas (1985), todos grandes sucessos de bilheteria. 

'A Marca da Pantera' (Cat People, 1983)



O seu passado, no entanto, era envolto em polêmicas: filha do também renomado ator alemão Klaus Kinski, tinha um relacionamento conturbado com o pai (de notório temperamento instável e agressivo), e ainda seria citada em processos judiciais sobre abuso de menores nos EUA, que atingiriam o cineasta polonês Roman Polanski a partir da década de 90, conhecido por sempre se relacionar com mulheres mais jovens. Polanski e Nastassja mantiveram um relacionamento de longa data, desde que se conheceram e até por volta de 1983, ele sendo 28 anos mais velho do que ela. Nastassja afirma, no entanto, que nunca deixou de amar o diretor, mesmo após a separação de ambos, e que ele seria o eterno responsável por alavancar a sua carreira artística e no cinema (tendo, inclusive, pagado por aulas de atuação e língua inglesa para ela). Nastassja passa a alegar, em diversos momentos, que caso tivesse tido apoio de mais pessoas como Polanski, ela teria sido melhor orientada no restante de sua carreira, e não teria se submetido a fazer tantos papéis que exploraram seu corpo e sua imaturidade, quando jovem.


A partir dos anos 90, Nastassja passa a atuar em produções menores entre a Europa e EUA, que possibilitam a ela se casar com o famoso produtor musical Quincy Jones, em 1992, e cuidar da filha de ambos. O casamento dura até 1997, e a partir dos anos 2000, ela passa a se dedicar cada vez menos ao cinema, concentrado suas atuações em pequenos papéis, em alguns filmes e séries para a TV, e se tornando membro majoritária da Cruz Vermelha Internacional, ajudando em várias causas humanitárias e sociais.


Kathleen Turner


A uma certa altura, parecia que Kathleen Turner havia sido talhada para desempenhar o papel de "mulher fatal" no cinema, daquelas que nascem para destruir a vida de quem cruza o seu caminho, dada a sua elogiadíssima atuação no clássico Corpos Ardentes (Body Heat, 1981), com William Hurt, e sob a direção de Lawrence Kasdan. Mas uma série de outros papéis mostrariam que ela era uma atriz de mão cheia, super versátil e talentosíssima, como na trinca de filmes em colaboração com os amigos Michael Douglas e Danny DeVito: Tudo por uma Esmeralda (1984), A Jóia do Nilo (1985), e A Guerra dos Roses (1989), bem como no subestimado A Honra do Poderoso Prizzi (1985) e no cult Peggy Sue (1987), de Francis Ford Coppola.




Dominou absoluta durante os anos 80, e ainda adentrou a década de 90 com alguns sucessos, como a comédia de humor negro Mamãe é de Morte (1994). Foi nesse período, entretanto, que passou a sentir fortes dores ao se movimentar, que caracterizariam os primeiros sintomas da artrite reumatóide, doença contra a qual a atriz teve que lutar durante anos, e que a fizeram ter que se locomover em cadeiras de rodas e praticamente suspender a sua carreira.

Quando conseguiu enfim estabilizar a doença e se recuperar, após oito anos de tratamento, os tempos já eram outros, e Kathleen voltou a atuar, mas em menor ritmo, e com outros tipos de papéis - a idade e as próprias condições em que fisicamente agora se apresentava já não possibilitavam mais os papéis de cunho sensual que fizeram a sua fama anteriormente.

Ainda assim, teve destaque em papéis menores, e numa atuação durante a sétima temporada da popular telessérie Friends, da NBC TV, como uma mulher cisgênero.




Brooke Shields

Será para sempre lembrada (especialmente no Brasil) como a mocinha que fica abandonada com outro garoto em uma ilha, após um naufrágio, no clássico A Lagoa Azul (Blue Lagoon, 1980), uma das fitas que mais assolaram as sessões vespertinas de filmes da Rede Globo, ao lado de Curtindo a Vida Adoidado. Antes disso, porém, Brooke já havia causado rebuliço, começando a atuar como uma prostituta mirim, no polêmico filme do diretor francês Loius Malle, Garota Bonita (Pretty Baby, 1978). 

Ainda atuaria com sucesso no filme romântico Amor Sem Fim (Endless Love, 1981), do cineasta italiano Franco Zeffirelli, e que levava na trilha sonora a conhecidíssima canção-dueto de Lionel Richie e Diana Ross, presente até hoje nas rádios flashback da vida. 

Em 1984, especulou-se que estaria tendo um caso com o cantor Michael Jackson, visto que passa a ser vista com ele e o acompanha em uma premiação do Grammy. O envolvimento não dura muito.

O engraçado é que, a partir do momento em que Brooke se torna mais adulta, e atinge certa idade, as suas atuações deixam de chamar tanto a atenção, e sua carreira cai num ostracismo que gera um hiato, a levando a dar um bom tempo das atividades artísticas e aproveitar todo o patrimônio adquirido para cuidar de sua vida pessoal, fazer faculdade, se casar etc. 

Os holofotes da mídia, no entanto, volta e meia pareciam se preocupar com ela, e procurar saber do seu paradeiro. Reaparece em algumas produções menores para cinema e TV, dos anos 90. A partir dos anos 2000, passa a desenvolver um maior talento como atriz de comédias e séries para a TV, fazendo participações esporádicas em episódios de Suddenly Susan (2000), Two and a Half Men (2004), e Hannah Montana (2008), dentre outras.






Rebecca De Mornay

A famosa "primeira namorada atriz" de Tom Cruise, com quem ele namorou durante a realização do seu primeiro grande sucesso como ator, a comédia jovem Negócio Arriscado (Risky Business, 1983). 

Ao longo dos anos 80, foi apoiando seu status mais como garota sexy de dramas e comédias românticas, tendo inclusive certo destaque na refilmagem americana de um antigo clássico francês com Brigitte Bardot, E Deus Criou a Mulher (And God Created Woman, 1988).





Mas foi em um filme de ação e suspense de 1985, hoje considerado um cult movie, que Rebecca demonstrou verdadeiros dotes dramáticos, e teve uma atuação séria, e bastante elogiada: Expresso para o Inferno (Runaway Train, de Andrei Konchalovksi), dividindo a tela com Jon Voight e Eric Roberts.

Talvez o seu papel mais reconhecido e aclamado, no entanto, tenha vindo com ela já um pouco mais velha, no papel da babá psicopata que põe os nervos do espectador à flor da pele no suspense A Mão que Balança o Berço (The Hand that Rocks the Cradle), de 1992.

Continua atuando hoje em dia, mas em produções menores.





Kelly Le Brock

Quando se fala em Kelly Le Brock, sempre levamos em consideração que há dois papéis emblemáticos na carreira da atriz, que ela vai carregar consigo para o resto de sua vida, e que marcaram toda uma geração de meninos com os "hormônios agitados", nos anos 80: A Dama de Vermelho (The Woman in Red, 1984), icônica comédia dirigida e estrelada por Gene Wilder, e a explosiva Mulher Nota 1000 (Weird Science, 1985), outra loucura sem pé nem cabeça, feita para o público jovem, onde dois nerds assanhadinhos, no estilo dos garotos de que falei, se aprofundam nas maravilhas da tecnologia e do emergente mundo dos computadores para "criar" uma mulher perfeita, que os ajude a realizar os seus desejos... Detalhe: o futuro 'homem de ferro' Tony Stark, o ator Robert Downey Jr. (molequinho!), já estava no meio dessa bagunça toda, prenunciando o futuro como cientista na Marvel.



Fora esses dois papéis, a carreira de Le Brock sempre foi se esgueirando em atuações que atendiam ao padrão de mulher bonitona e envolvida em algum tipo de confusão - e com certeza, uma de suas piores experiências foi se casar com o malão sem alça Steven Seagal, e ainda ter que atuar com o maridão no fuleiro thriller de ação Difícil de Matar (Hard to Kill, 1990), além de ter que aturar, claro, as puladas de cerca do figura. 

Corajosa

Kelly foi guerreira: conseguiu sobreviver ao casamento com o ator de 1987 a 1994, e ainda teve três filhos com ele.

Depois não deu mais. A coisa deve ter sido tão traumática, que ela simplesmente largou tudo após a separação, jogou a carreira pros ares, e já há 28 anos foi parar no meio do mato - mora hoje com sua prole em um rancho da Califórnia, e não pensa em voltar ao show business.





Sean Young

Mais um típico caso de atriz que ficará eternamente presa a uma personagem lendária, sempre rememorada por fãs e cinéfilos: Sean Young foi alçada ao estrelato ao interpretar a enigmática replicante Rachel, que se envolve com o "caçador de androides" Deckard, vivido por Harrison Ford, no clássico da ficção científica Blade Runner, de 1982, dirigido por Ridley Scott. 

O papel a habilitou para uma série de oportunidades e convites na Hollywood da época. Aos poucos, porém, produtores e diretores foram descobrindo que, se Debra Winger (citada lá no começo) era daquele time de profissionais com gênio difícil, brigona, e que não aceitava qualquer coisa, pelo jeito Sean era o triplo dela, ou seja, nessa escola ela já tinha tirado master's degree... De temperamento exaltadíssimo, Sean passou a fazer exigências enormes e recusar vários papéis, e sua fama de "complicada" às vezes era piorada pelo fato dela, desde nova, apresentar uma certa tendência para o uso contínuo de álcool - fato agravado um pouco mais alguns anos depois, quando também passou a consumir certas substâncias. Veremos logo adiante que ela tem passagens, no mínimo, curiosas.

Aos trancos e barrancos, Sean ia conseguindo contratos para atuar, incluindo uma atuação de destaque na primeira adaptação cinematográfica de Duna (1984), realizada por David Lynch - mas nada que lhe desse tanto renome quanto o papel da replicante Rachel.

Em 1987, finalmente ocorre uma boa chance, com a sua elogiada atuação como a acompanhante de luxo Susan, no excelente thriller de espionagem e suspense de Roger Donaldson, com ninguém menos que Kevin Costner (em sua fase áurea de galã) e Gene Hackman no elenco: Sem Saída (No Way Out). E Sean Young novamente tem o seu momento de fama e aclamação.

O grande problema é que, além da atuação, o talento para arranjar encrenca também era forte, e novamente Sean começa a brigar com agentes e produtores e a recusar papéis que lhe eram ofertados. Quando ela ficou sabendo, em 1988, que o diretor Tim Burton está preparando a sua adaptação para o cinema do herói Batman, ela infernizou a vida de todos os envolvidos até conseguir o papel. Por uma dessas ironias do destino, no entanto, logo ela foi "punida" com a sua retirada do elenco, após rodar uma das primeiras cenas em que a personagem que ela interpretaria, Vicky Vale (par romântico do homem-morcego) precisa montar um cavalo com ele: ela caiu, fraturou a clavícula, e não teve jeito, a produção logo a substituiu por Kim Basinger, que ficou com o papel (conforme já mencionado anteriormente).

A incansável Sean, apesar disso, queria porque queria figurar em um filme do herói, e uma nova - e dessa vez, tragicômica - tentativa foi feita em 1991, quando foi anunciado que Tim Burton estava já preparando uma sequência para o filme - que se chamaria Batman, o Retorno




Sean Young em sua histórica aparição como Mulher-Gato (The Joan Rivers TV show, 1991)

Sean simplesmente enfiou na cabeça que ela tinha todos os requisitos para interpretar a perigosa Mulher Gato. E o pior aconteceu: visivelmente alterada, ela paga um mico federal ao participar de um programa da TV norte-americana vestida com a fantasia da personagem, e implorando ao diretor para escalar ela para o elenco... Não se sabe se a coisa foi bem entendida como brincadeira ou afronta, mas o resultado é que o papel foi parar nas mãos de Michelle Pfeiffer.

Declaração da própria Sean a respeito do ocorrido: "Honestamente, não vi nada de mal no que fiz. Adoro aquele vídeo! Achei hilário. Era uma situação de humor, mas também era realmente um pedido. O problema é que esses idiotas inseguros e babacas dos estúdios não são bem humorados, não veem o humor e o potencial das situações. Se eles tivessem algum bom senso... Eu teria sido excelente! Se tivessem me dado o papel, eles veriam que seria perfeito, mas eles não são bons empresários. Eles não são nada inteligentes".

Kkkkk. Eis aí uma mulher que fala o que pensa.

Bem, depois dessa malfadada tentativa, Sean foi fazendo o que pôde em produções menores. Ela teve um destaque considerável ainda como a inspetora de polícia Lois, na comédia de sucesso de Jim Carrey, Ace Ventura (1994). Depois disso, se seguem vários papéis aleatórios, e muitos em produções mais baratas.

Seu nome voltaria a ficar em evidência com o uso autorizado de sua imagem reconstruída com CGI, novamente como a replicante Rachel, na sequência Blade Runner 2049, filmada por Dennis Villeneuve, em 2017. 

Apesar dos altos e baixos, Sean tem avisado recentemente à mídia toda que ainda está viva. E quicando.





Isabelle Adjani

De todas as atrizes aqui citadas, esta talvez seja a que tenha tido a carreira mais regular e estável, e se nos últimos tempos não teve numerosas atuações ou aparições, é porque ela simplesmente é considerada uma das melhores atrizes do cinema europeu (é francesa), e se destacou por atuações de classe e respeitadas por público e crítica, em produções francesas e norte-americanas. Isso fez com que Isabelle se notabilizasse por ser bastante seletiva em relação aos projetos que escolhe, sendo esse um dos motivos de uma certa inconstância na carreira.

Sua carreira remonta ainda à década de 70, quando atuou no drama A História de Adele H. (1975). Ganhando notoriedade internacional, passou a estrelar grandes produções, como O Inquilino (1976, de Polanski), Caçador de Morte (1978, de Walter Hill), e a sombria versão de Nosferatu, de 1979, do cineasta alemão Werner Herzog.

Nos anos 80, continua sempre escolhendo bons papéis, e se firma ainda mais com êxitos como o cultuado Subway (1985, de Luc Besson), e Camille Claudel (1988), que lhe rende um prêmio César, e uma indicação ao Oscar de melhor atriz.

Após ser aclamada como uma das mulheres mais bonitas do mundo, no final daquela década, Isabelle passa a dar um tempinho nas atuações e, no decorrer dos anos 90, se dedica a uma bem sucedida carreira de modelo, além de passar a aparecer nas capas de tabloides e revistas de celebridades devido ao seu tempestuoso envolvimento com o também célebre ator Daniel Day-Lewis: um relacionamento conturbado, mas que dura cinco anos, e ainda gera um filho, Gabriel Kane Day-Lewis.

A partir dos anos 2000, volta a se dedicar esporadicamente a produções do cinema europeu.




Melanie Griffith

Hoje, podem pensar que talvez não seja mais tão relevante. Mas para quem assistiu, na época, os filmes dela eram um achado: sempre envolvida com filmes de suspense ou comédias, Melanie Griffith - para quem não sabe, mãe de uma tal Dakota Johnson, que ela teve de um relacionamento problemático e abusivo de décadas com o ator Don Johnson (da série de TV Miami Vice) - era uma dessas atrizes que chamavam público para os cinemas. Com um timing ótimo, uma beleza estonteante, e grande carisma nas telas.

Melanie Griffith e Dakota Johnson

Ela é um desses grandes talentos perdidos no tempo, e uma das que mais legitimam este tipo de resgate que estamos fazendo aqui.

Vem de uma família de artistas do cinema, coisa que se perpetua com Dakota, e que começou lá com sua mãe; Melanie é filha de ninguém menos que Tippi Hedren, a estrela do clássico Os Pássaros (1963), de Alfred Hitchcock.

Ela começou no cinema novinha, ainda adolescente, atuando com o fera Gene Hackman no excelente Um Lance no Escuro (Night Moves, 1975, de Arthur Penn). Alguns anos depois, vem a consagração, em 1984, no papel da stripper Holy Body, do excelente suspense Dublê de Corpo (Body Double), de Brian DePalma.




Logo em seguida, vem papéis memoráveis nos clássicos Totalmente Selvagem (Something Wild, 1986), uma das mais desvairadas comédias de ação da década, dirigida por Jonathan Demme, e Uma Secretária de Futuro (Working Girl, 1988), em que atua ao lado de monstros como Harrison Ford e Sigourney Weaver, e é indicada ao Oscar de melhor atriz.

Era o momento de ouro para a carreira de Melanie.

Mas, pouco tempo depois, com falhas de agenciamento e contratos para bons filmes, e como consequência de um crescente uso de drogas e relacionamento conturbado com Don Johnson, que vão lhe criando cada vez mais dores de cabeça, a carreira de Melanie dá uma estagnada. E logo começa a derrocar.

Melanie ainda teria um bom momento em 1995, quando filmou Quero Dizer que te Amo (Two Much), com o astro espanhol Antonio Banderas, e que acabou lhe rendendo um êxito pessoal também - se apaixonaram e se casaram logo em seguida, vivendo um relacionamento mais estável e tranquilo, até por volta de 2015.

Hoje, Melanie faz pequenas pontas em filmes e seriados, e dirige uma associação que fundou recentemente, para ajudar crianças queimadas.

Melanie com Jeff Daniels, e sua indefectível peruca preta, em 'Something Wild' (1986)





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