domingo, 16 de março de 2025

UMA NOVA VERSÃO PARA AS CHACINAS DE CHARLES MANSON

 

Já é consenso há muito tempo que as horríveis chacinas provocadas pelo maníaco Charles Manson (falecido aos 83 anos, em 2017), em Los Angeles (EUA), no ano de 1969, constituem um dos mais tristemente célebres e sombrios acontecimentos da cultura pop, na era contemporânea.

Charles Manson

Para quem ainda não se recorda (ou não tem conhecimento), Manson era desde tenra idade um delinquente e ex-presidiário, com aspirações a se tornar compositor e cantor de sucesso no advento da geração flower power dos anos 60, mas mediante suas tentativas fracassadas, acabaria se convertendo em uma espécie de guru hippie, que formaria um culto muito sinistro com um grupo apelidado de 'A Família', repleto de jovens perdidos e desajustados, a maioria fugidos de casa, e regado a muito sexo e drogas - um verdadeiro séquito de adoradores do papo delirante de Manson, repleto de simbologias absurdas que misturavam passagens da Bíblia, teorias próprias sobre guerras raciais e fim do mundo, e até mesmo interpretações distorcidas de letras das músicas dos Beatles.

Membros da 'Família Manson'

Em certo momento, se apoderaram de um local inóspito nas redondezas de Los Angeles, que fora usado anos antes para filmagens de faroestes - o Spahn Ranch - e lá formaram sua base local, onde Manson doutrinava garotas e rapazes com suas pregações absurdas e orgias lisérgicas. Caso tudo continuasse apenas dessa forma, assim como ocorreu com várias outras seitas e grupos místicos e existenciais formados nos loucos tempos ripongas, tudo bem. Mas a personalidade destrutiva, manipuladora, e repleta de ódio de Manson, logo fez as coisas descambarem para uma das mais assustadoras tragédias de que se tem notícia.

Sharon Tate

No dia 9 de agosto, alguns membros da 'Família', a mando de Manson, invadiram uma casa localizada nas encostas de Cielo Drive, nas imediações de Hollywood, então pertencente ao célebre cineasta Roman Polanski e sua esposa: uma atriz em ascensão, considerada uma das mulheres mais bonitas do mundo na época, Sharon Tate, e que estava grávida de oito meses. Ali, estavam Tate e alguns amigos, que se tornaram as primeiras vítimas dos bárbaros atos de violência dos seguidores de Manson... Mortes cometidas com requintes de crueldade e indícios ritualísticos, com dezenas de facadas e uso de cordas para enforcamento, num banho de sangue macabro, que terminaria com o sangue de Tate (após implorar para que não fosse morta) sendo utilizado pelos assassinos para escrever palavras nas paredes da casa. 

Roman Polanski e Sharon Tate

No dia seguinte, 10 de agosto, mais chacina: os seguidores de Manson invadiram também a mansão do casal Leno e Rosemary LaBianca, prósperos comerciantes locais de Los Angeles, e repetiram a dose com os dois, utilizando o mesmo modus operandi na execução das vítimas, e também espargindo o sangue das mesmas com mensagens bizarras nas paredes. 

Manson durante as sessões de julgamento: a certa altura, desenharia a faca uma cruz, depois convertida em suástica, em sua própria testa

Descoberta a autoria dos crimes, e efetuadas as devidas prisões - incluindo a de Charles Manson - após um longo período de investigações da polícia de Los Angeles (que demorou bastante para ligar os fatos), a amarga sensação que os crimes da família Manson deixaram em toda a sociedade da época foi a de que, repentinamente, todos os ideais de "paz e amor" da geração hippie tinham sido desmascarados e exterminados, mostrando que, mesmo aqueles jovens que alardeavam uma nova filosofia de vida, mais comunitária e menos agressiva e capitalista, poderiam ser verdadeiros lobos em pele de cordeiro. "O sonho acabou", como disse John Lennon.

Um Roman Polanski desolado vê a inscrição "pig", escrita a sangue, na porta da casa

Durante muito tempo, as motivações para tanta selvageria seriam objeto de intensa especulação por parte da grande mídia. O que, afinal, teria levado Manson a induzir moços e moças aparentemente tão pacatos a cometer tais homicídios? E o que chamava mais a atenção: como que ele fez isso através das mãos deles, ordenando tudo, e sem ele mesmo ter tocado um dedo fisicamente sequer em todo esse massacre? 

As teorias mais bem aceitas até hoje partiam das argumentações do promotor do caso, Vincent Bugliosi, que ficou famoso na época por conseguir a condenação de Manson à prisão perpétua, e lançou um livro sobre o caso que se tornaria um best-seller: Helter Skelter, de 1974, onde ele sustentava que, na mente alucinada de Manson, ele próprio se via como uma espécie de segundo messias, e que após um conflito racial de escalas sem precedentes, entre negros e brancos, todos morreriam, e ele e seus seguidores se tornariam os representantes de uma nova sociedade, uma nova ordem mundial. 

Os assassinatos, então, teriam sido estimulados por Manson em seus adeptos, e cometidos de forma a que a polícia acreditasse que fossem obra dos negros, desencadeando a guerra entre os Panteras Negras e as autoridades a partir de Los Angeles, e dali, em todos os Estados Unidos - daí as inscrições nas paredes, se referindo a pigs ("porcos", que era o jeito como os tiras eram chamados nos guetos e no submundo) e death to pigs ("morte aos porcos"). Todas essas expressões, assim como helter skelter (gíria para "montanha russa"), também escrita a sangue nas paredes das casas, faziam referência direta a nomes de músicas dos Beatles com os mesmos nomes, encontradas no famoso White Album (de 1968), reafirmando a obsessão torpe de Manson pelo grupo - assim como trechos da Bíblia, ele interpretava muitas das músicas dos garotos de Liverpool como se fossem profecias ocultas.

Mas... Com o excelente documentário lançado neste mês pela Netflix, Caos: Os Assassinatos de Manson (Chaos: The Manson Murders, 2025), dirigido por Errol Morris, e utilizando como base o livro 'CHAOS: Charles Manson, the CIA, and the Secret Story of the Sixties' (de Tom O'Neill e Dan Piepenbring), uma nova versão para as chacinas de Charles Manson começa a ser discutida, e toma forma.

Diversas informações antes despercebidas (talvez propositalmente) pelo inquérito original mostram que, antes de tudo, havia uma contenda sobre uma malsucedida venda de drogas, realizada por um dos membros da Família, Bobby Beausoleil, figurinha famigerada como 'pusher' (fornecedor) no meio musical e marginal daquele período - havia tentado a sorte como guitarrista na banda Love (de Arthur Lee), não deu certo, e assim como Manson, se tornara um loser que descambou para o submundo hippie. Essa transação desastrosa de Bobby, que teria vendido ácido adulterado e de má qualidade para uma gangue barra pesada, ocasionou uma briga de traficantes - na qual Manson precisou intervir, para impedir que futuras investigações policiais chegassem até as suas atividades com a Família. Beausoleil seria preso após ser pego dormindo no carro de um dos envolvidos na venda da droga - que ele matou a facadas, na mesma noite. 

Bobby Beausoleil

Isso ocorreu em 6 de agosto de 1969. Apenas 3 dias depois, os assassinatos determinados por Manson começariam a acontecer. Para o autor do livro, Tom O'Neill, entrevistado no documentário, fica muito evidente a intenção de Manson de tentar desviar a atenção da polícia para outras ocorrências e, também, para fazer as autoridades acreditarem que as chacinas seriam cometidas pelos traficantes negros locais, que estavam em sua cola por causa do negócio com drogas ruins - não como uma forma de criar uma contenda racial, mas sim, pelo receio de que Bobby Beausoleil começasse a "abrir a boca" na prisão, entregando Manson e todo mundo da Família que estava na jogada.

E de onde viria o descomunal poder de persuasão de Manson sobre todos aqueles jovens?

Dr. Jolly West

Aí é que as novas teorias se tornam cada vez mais interessantes: praticamente ninguém sabia, mas em uma das diversas clínicas para drogados e delinquentes custeadas pelo governo dos EUA na época, no famoso bairro hippie de Haight-Ashbury (San Francisco), atuou um certo Jolly West - não por acaso, um dos mais renomados psiquiatras que participara do projeto MK Ultra, da CIA: o polêmico e até hoje acobertado programa de controle mental de cidadãos, através do uso de substâncias químicas e processos hipnóticos indutores de gatilhos. Durante as suas passagens por essa clínica, Manson - já reincidente por vários crimes, e sempre enviado como forma de reabilitação social - era estranhamente liberado após poucos dias, com o aval dos médicos responsáveis regularmente constando em sua ficha...

Haight-Ashbury, nos anos 60...

Teria Charles Manson sido, secretamente, mais um dos experimentos de manobra mental da CIA? Teriam as sementes da ira e do extermínio sido plantadas em sua psique, como uma forma da CIA cumprir uma agenda de desmistificação e criminalização da juventude contracultural e libertária, em toda a sociedade da época??? O filme traz referências diretas aos Experimentos CHAOS, da CIA, e COINTELPRO, do FBI, nesse sentido.

"Caos: Os Assassinatos de Manson" é um ótimo programa para quem curte obras true crime, e resolve tudo em apenas uma hora e meia. Não é série dividida em episódios, é conciso, direto no ponto e instigante, como toda obra assim deveria ser. 

E para quem souber enxergar e entender todos os sinais, vai deixar o ponto de interrogação necessário, na cabeça de muita gente: até onde o poder institucionalizado pode ir, para conduzir ou desviar os rumos e destinos de toda uma geração, e de toda uma sociedade?




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2 comentários:

  1. Vale mencionar o filme "Era Uma vez em Hollywood" onde Tarantino cria um final em respeito a imagem de Tate e de como ela poderia ter ido em frente na carreira o que não aconteceu infelizmente.

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    1. Sim!!! Nem sei quem é mais linda, Sharon Tate ou Margot Robbie que a interpretou no filme com um desleixo de devaneio gostoso... Mas a gente fica pensando que crueldade que foi matar uma mulher tão bonita, e esperando uma criança ainda...

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