quinta-feira, 20 de março de 2025

VENHA PARA O MUNDO DA MAGIA... DO URIAH HEEP!

 

Houve um período, na década de 80 e meados dos anos 90, do século 20, em que para os jovens, era a coisa mais 'in' estar inserido em um grupo de jogadores de role playing game - o popular RPG. A famosa série da Netflix Stranger Things, em sua icônica quarta temporada (de 2022), retratou essa febre adolescente na figura da galerinha liderada pelo metaleiro Eddie (papel de Joseph Quinn), um mestre do jogo, em meio a tabuleiros que sempre vinham cheios de cenários e peças, com bonecos e cartas caracterizando os personagens, suas peculiaridades e poderes, que deveriam ser encenados durante as partidas - epopeias que, às vezes, poderiam se estender por dias, meses, até anos.

Rolou o RPG com a galerinha de Stranger Things (2022)

Com o passar dos anos, os RPG se popularizaram cada vez mais, se transmutaram, e até se modernizaram, como os modernos e inúmeros jogos de estratégia online que estão em voga, mas ainda existem muitos grupos de adoradores old school, da velha guarda, que estão por aí, jogando pessoal e presencialmente, da mesma forma tradicional, que polemizava bastante na mídia da época: para pais mais conservadores, era um perigo ver os filhos se infiltrando em personas de guerreiros bárbaros ou magos, perfis violentos e agressivos que poderiam levá-los a atos criminosos; para os mais liberais, era interessante perceber como seus filhos poderiam desenvolver dons para a arte e a interpretação dramática, e até outros tipos de atividades mais formais que dependiam da criatividade e da tomada de decisões estratégicas, no acirrado mercado de trabalho.

A Caverna do Dragão

Seja como for, o RPG é tendência que marcou época, e continua influenciando muitos adeptos. E o seu masterpiece, o jogo que eternizou tudo isso, foi o mítico Dungeons & Dragons, originalmente lançado nos EUA em 1974. Só para se ter uma ideia, esse jogo virou até desenho animado: nada mais, nada menos que o popular A Caverna do Dragão (título no Brasil), outra febre sem precedentes para toda uma geração.

E mediante todo o seu contexto de castelos, espadas e feitiçaria, não era raro ver a molecada jogando Dungeons & Dragons, com a sua trilha sonora mais apropriada tocando ao fundo: os discos Demons and Wizards (1972) e Magician's Birthday (1973), do grupo britânico de hard rock progressivo Uriah Heep

Uriah Heep

Par de álbuns esses, aliás, que tiveram as suas capas criadas pelo lendário ilustrador Roger Dean - o fera por trás das icônicas capas dos discos do grupo progressivo Yes, naquele mesmo período.

Confesso que nunca fui muito envolvido com RPG, mas gostava de ouvir o som do Uriah, e sua abordagem altamente mística de todo aquele universo. Retirado de um personagem do clássico da literatura David Copperfield (1850), de Charles Dickens, o nome do grupo sempre motivou debates cá entre os brasileiros, devido à sua pronúncia correta - que, vinda do inglês, é "iuraia rip".




A banda surgiu em todo aquele boom de grupos 'protometal' do final dos anos 60 na Inglaterra, seguindo as pegadas da trindade básica do rock pauleira (Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath). O Uriah, entretanto, nunca escondeu uma forte tendência para os sons mais neo-clássicos, misturando muito peso com passagens virtuosas de cunho erudito, e o entrelaçamento bem concatenado entre teclados e guitarras, bem ao estilo do Deep Purple - lançaram álbuns iniciais que elevaram bastante o nome do grupo em toda a Europa, como o primeiro Very 'Eavy Very 'Umble (1970), e os petardos seguintes, Salisbury e Look at Yourself, de 1971, apostando em suítes e longas passagens climáticas e melódicas.

Assim como diversos combos da época, tiveram numerosas trocas de formação, mas em seu line-up mais clássico, contavam com o "garganta de ouro" David Byron (vocais), Mick Box (guitarra), Lee Kerslake (bateria), Gary Thain (baixo) e o multi-instrumentista - tecladista, guitarrista, co-vocalista e compositor da maioria das músicas - Ken Hensley, praticamente o líder da banda, e que se manteve em todas as formações.

Easy Livin' (1972)

Em 'Demons and Wizards', até hoje considerado a obra-prima do Uriah, os vocais principais que se sobressaem na épica "The Wizard" são de Hensley, dando largada num álbum espetacular que vai adentrando cada vez mais no território de  temas sobre magia e dragões, mas que servem também como metáforas da loucura na sociedade moderna - seguem a batida acelerada de "Easy Livin'", um dos maiores hits do grupo, e pedradas como "Circle of Hands", "Traveller in Time" e "Rainbow Demon", onde guitarras envenenadas e encharcadas de wah-wah, em muitos momentos, duelam vigorosamente com teclados inebriantes, ante a cozinha ensandecida da batera e baixo, todos fazendo cama para a voz operística de David Byron - injustamente, um dos mais subestimados e esquecidos vocalistas do rock pesado de todos os tempos. Com um alcance elevadíssimo, e dono de uma extensão vocal vigorosa, raramente vista nos grupos daqueles tempos, Byron mostra nesse disco porque não ficava devendo nada para outros virtuosos do gogó como Ian Gillan e Robert Plant (do Purple e Zeppelin, respectivamente).

Echoes in  the Dark (1973)

O álbum seguinte, 'The Magician's Birthday', é considerado por alguns levemente inferior se comparado a 'Demons...", mas eu discordo: na minha opinião, apenas possui uma tonalidade mais melancólica e contemplativa, mas nem por isso menos envolvente, entregando intensidade com peso e melodias atmosféricas também, em sons como "Sunrise", "Echoes in the Dark" e na faixa-título que encerra o disco, viagem das mais poderosas, convocando o ouvinte a 10 minutos e tal de uma jornada acachapante aos confins medievais do mundo onírico.

Depois dessas duas pérolas do hard rock setentista, o Uriah seguiria com regularidade fazendo bons discos, alguns mais e outros menos criativos, até que sentiria a perda de certo grau de sua popularidade com o advento do movimento punk no final dos anos 70, o que ocasionaria a decadência de muitos dos dinossauros do rock do período (em que o Uriah se incluía), e a lamentável despedida do vocalista Byron, que deixou o grupo para seguir uma errática carreira solo marcada pelo ostracismo e o agravamento do alcoolismo que o acometera. Ele faleceria em 1985, devido a complicações de uma cirrose. E o Uriah acabou sendo relegado a uma estante de "segunda classe" das grandes bandas pesadas dos anos setenta - algo injusto também, dada a alta categoria de sua obra e de seus músicos.

David Byron

O Uriah Heep, após diversas trocas de membros, mas se mantém até hoje, é uma das mais longevas bandas do gênero, e sua agenda de shows é sempre grandiosa e constante, saciando a vontade de fãs daquele bom e velho hard rock "mágico" e progressivo, em ver a performance dos veteranos. Apesar da idade, não gostam de falar em aposentadoria, e prometem uma próxima turnê para este ano de 2025, que deve passar pelo Brasil, onde já tocaram anteriormente. 

Que as bruxas e magos do rock saiam de suas torres!





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