sexta-feira, 28 de março de 2025

ALGUMAS DEUSAS - MAIS ESQUECIDAS AINDA! - DO CINEMA*

 

* Este post é uma espécie de continuação do artigo publicado em 16/10/2024, 'Algumas Deusas Esquecidas do Cinema'. Se você não leu, confira aqui.


Atrizes lindas e cinema é uma combinação que sempre vai dar certo. No ato instintivamente voyeur que é ser fã de cinema, observando e analisando as histórias e vidas de pessoas que antes não conhecíamos, e que passam a ser parte de nossos pensamentos (eis aí a grande magia de se ver filmes), a presença de musas e divas pode fazer filmes bons ficarem melhores ainda - e, às vezes, filmes ruins nem serem tão ruins assim - pois a plasticidade e estética inerentes às produções audiovisuais agradecem, e muitas vezes realçam, personagens femininas cativantes não só no texto e no enredo, mas essencialmente atraentes também.

Nossa intenção aqui, no entanto, é ir um pouco mais a fundo no jogo da memória cinéfila, e tentar relembrar - sobretudo, para gente felizarda da minha geração - algumas grandes beldades do período compreendido entre o final dos anos 70 e meados dos anos 80, e que, de repente, desapareceram de uma maneira quase absurda, sem deixar pista nenhuma. 

Hoje, com a web, dá pra saber um pouco mais do paradeiro dessas marcantes atrizes. E não vamos abordar aquelas mais famosas e que, mesmo após alguns hiatos, conseguiram voltar e restabelecer suas carreiras de maneira até surpreendente, quando ninguém mais esperava: caso de estrelas como Daryl Hannah, Michelle Pfeiffer, e a poderosa Demi Moore, que até a um Oscar recente concorreu.

Não. O buraco aqui é mais embaixo.

Vamos explorar e relembrar um pouquinho de algumas deusas 'mais esquecidas ainda' do cinema, que sumiram mesmo, e deixaram saudade nos seus inúmeros fãs.


Tanya Roberts

Em terras brasileiras, Tanya sempre será lembrada pela icônica personagem que interpretou no filme de 1984, Sheena - A Rainha das Selvas, um dos campeões de reprises da TV Globo na década de 1990, e que explorava a beleza estonteante de sua protagonista como uma versão feminina do Tarzan. Filme esse que, aliás, fez muito mais sucesso aqui entre os brazucas do que lá fora, que ficavam babando nas formas da moça, generosamente exibidas em trajes sumários ao longo do filme. Mas a carreira da loira já havia começado bem antes, ainda no final da década de 70, como uma das 'Charlie's Angels' do popularíssimo seriado de TV As Panteras - ela participara de um concurso para ganhar o papel de Julie Rogers, no que seria a última temporada do programa. Também teve um papel de grande destaque como a bond girl Stacey, no último filme estrelado por Roger Moore como o agente James Bond, 007 Na Mira dos Assassinos (A View to Kill, de 1985). Entretanto, a partir do final dos anos 80, a carreira de Tanya entrou numa espiral descendente, devido a erros na escolha de papéis para o cinema e contratos duvidosos, o que a levou a fazer filmes eróticos de baixo orçamento para a televisão paga nos EUA, especialmente os da série Hot Line - a galerinha empolgada que se exercitava por aí nas madrugadas da Band TV, no Brasil, deve se lembrar de muitos deles passando no famoso 'Cine Privé'. Infelizmente, Tanya não se encontra mais entre nós: ela foi caindo cada vez mais no ostracismo, e faleceu em 2021, aos 65 anos, em decorrência de uma infecção urinária.

Sheena, a Rainha das Selvas


Sybil Danning

Outra rainha da garotada com espinhas na cara dos anos 80, Sybil é de origem austríaca, e se especializou desde o final da década de 1970 em estrelar filmes B de terror, ficção científica, e comédias insanas de baixo orçamento e apelo erótico. Ela se tornaria uma estrela dos estúdios New World, do rei dos filmes B americanos, Roger Corman. Emendando uma série de produções do cineasta, ela teve destaque como uma das atrizes principais de Batalha Além das Estrelas (Battle Beyond the Stars, de 1980), que fez bastante sucesso em exibições antigamente, na TV brasileira. Também estrelou filmes populares entre a galera "trasheira", como Hércules (1983, antigo campeão de reprises no SBT) e Grito de Horror 2 (The Howling II, 1985), em que interpreta uma vampirona muito doida, e pra lá de afoita - se você bem me entende. No início dos anos 90, Sybil acabou tendo sua carreira prejudicada por uma série de problemas relacionados a uma hérnia de disco, que fizeram ela se afastar por um bom tempo. Retornaria no início dos anos 2000, com várias participações especiais em pequenos filmes e séries de TV, mas já sem o mesmo pique. Desde 2010, está praticamente aposentada da carreira artística.

Richard Thomas ao lado da guerreira Sybil, em cena do clássico 'Batalha Além das Estrelas'



Jennifer Beals


Pra quem tinha a música no pé nos saudosos anos 80, era impossível não dar umas gingadas ou ao menos balançar a cabeça, com fascínio, ao ver as irresistíveis cenas de dança protagonizadas por Jennifer Beals no memorável filme Flashdance - Em Ritmo de Embalo (1983), do diretor Adryan Line, que virou uma febre da época com aquele refrão grudento da música de Irene Cara ("What a feeling..."), enquanto Jennifer fundia balé clássico com dança contemporânea, em uma frenética coreografia defronte o corpo de jurados de um concurso de dança, no emocionante final da fita. O filme acabou sendo o realmente único grande momento dela na sétima arte, o que é uma pena, pois demonstrava ser uma atriz excepcionalmente carismática, e que tinha um belo futuro pela frente, caso oportunidades (roteiros e papéis) melhores tivessem aparecido para ela. Apesar de depois já ter trabalhado em um grande número de filmes para cinema e TV, ela acabou tendo um maior destaque apenas como co-protagonista junto ao célebre cantor/ator inglês Sting, no filme de suspense pop A Prometida (The Bride), uma versão feminina pra lá de exótica da história de Frankenstein, rodado dois anos depois de Flashdance.

Jennifer Beals e Sting, em 'A Prometida' (1985)



Meg Ryan


Ela tinha tudo para ter dado muito certo, e ter sido uma estrela de primeira grandeza. Era uma grande promessa feminina do cinema, durante boa parte da década de 80. Chegou a ser chamada de "a nova namoradinha da América", e uma grande parte da bilheteria dos filmes de que participava se devia a ela, que perfilava charme, beleza juvenil e boas atuações em fitas como Viagem Insólita (Innerspace, de 1987) - filme em que conheceu seu marido de longa data, o também ator Dennis Quaid, com quem esteve casada por 10 anos - e no impagável Harry e Sally - Feitos um para o outro (When Harry Met Sally, 1989), ao lado do genial Billy Crystal. Começara bem a carreira com um pequeno papel dramático no primeiro Top Gun - Ases Indomáveis, de 1986, em que chamou a atenção como a jovem viúva do personagem Goose, o grande amigo de Maverick (Tom Cruise) na trama do filme. 

Com o ex-marido Dennis Quaid, na comédia de ação 'Viagem Insólita' (1987)

Também seria destaque em filmes como a cinebiografia musical The Doors (1991, com Val Kilmer), a comédia romântica Sintonia de Amor (1993, com Tom Hanks), e o drama Prova de Vida (2000), que seria o começo da descida aos infernos para Meg: com a união entre ela e Dennis Quaid já em crise, começou a ser alvo dos paparazzi e dos esquemas de boataria da imprensa marrom, de que ela e seu companheiro de elenco, Russel Crowe, estariam tendo um caso, bem debaixo do nariz de Quaid, no que pode ter sido uma das campanhas chauvinistas mais desmoralizadoras da época. Meg saiu com a imagem meio arranhada da situação, e foi tentando reerguer sua carreira nos anos seguintes, mas sem as mesmas chances de bons papéis, e com a popularidade já um tanto abalada. Hoje, ainda buscando destaque em produções menores, se regozija de estar assistindo o crescente sucesso de seu talentoso filho com Dennis, Jack Quaid, que vem seguindo com êxito a mesma carreira dos pais.


Com Tom Cruise, no clássico 'Top Gun', de 1986



Jack Quaid, sensação emergente de Hollywood no filme 'Novocaine', é filho de Dennis e Meg Ryan


Phoebe Cates

Tida até hoje como uma das mais belas atrizes da primeira metade da década de 80, nos EUA, e que chamava a atenção por sua beleza simples e angelical, com cara de 'menininha' mesmo, Phoebe despontou com tudo em sucessos de bilheteria da época, como a comédia Picardias Estudantis (Fast Times at Ridgemont High, 1982) e o fenômeno de horror e humor Gremlins (1984). Seguiu atuando durante todo o restante da década, em filmes que vez ou outra exploravam a sua sensualidade com algumas cenas de nudez, até que na produção de Te Amarei Até te Matar (I Love You to Death, 1990), onde faria uma ponta, conhece o renomado ator Kevin Kline (16 anos  mais velho), por quem se apaixona, e se casam. 

Desde então, Kline, ciumento que só ele, passaria a ir proibindo várias propostas de papéis para Phoebe, visto que sempre tinham certo apelo erótico, e aos poucos ela vai deixando o ramo da atuação, para se dedicar mais à família - seu último trabalho seria em 2001, no drama Aniversário de Casamento. Podemos dizer que essa realmente praticou a notória "renúncia por amor".

Phoebe e Kevin Kline, na época do casamento


Lucinda Dickey

Tirando alguns filmes meio mequetrefe que havia feito explorando seus dotes como dançarina profissional, seu primeiro ramo de atuação antes de se arriscar como atriz, Lucinda acabou marcando mesmo sua carreira ao tirar o fôlego de muito marmanjão metido a Bruce Lee, que ficava obcecado assistindo as coreografias kung-fu da célebre 'Trilogia Ninja', promovida pelo famigerado Canon Group, o estúdio de filmes B mais picareta que já existiu, comandado pelos israelenses Menahem Golan e Yoram Globus, na selvagem Hollywood dos anos 80. Ninja 3 - A Dominação (1985) foi o terceiro e último filme da série, que em comum com os outros, acaba tendo apenas a participação do grande mestre das artes marciais Sho Kosugi, importado do Japão pra arrepiar geral na catana, e conferir certa legitimidade a tanta cascata com orçamento barato. Mas Lucinda dá bem conta do recado, convence como a inocente garota telefonista que se vê repentinamente tomada pelo espírito vingativo de um ninja moribundo (cenas no estilo 'O Exorcista'), e passa a tocar o terror na vizinhança, até ser confrontada pelo mestre ninja do bem, interpretado por Kosugi. Essa fita também foi campeã de reprises na TV aberta, e algumas cópias das locadoras chegaram a derreter de tanto rodar no videocassete da garotada, que delirava ao ver Lucinda nas lutas ninja e em alguns momentos mais sexy - logo depois disso, ela simplesmente tossiu e sumiu.







Meg Tilly

Considerada uma das atrizes mais bonitas e promissoras da geração anos 80, notável por sua beleza exótica e de nuanças orientais (é filha de um comerciante de carros sino-estadunidense com uma professora americana), chamou a atenção desde nova por seu talento com a dança. No entanto, uma problema nas costas a impediu de seguir profissionalmente na carreira, mas acabou a levando a desenvolver também a arte dramática, e logo Meg já estava sendo cotada para atuar em produções famosas da época, como no musical Fama, de 1980, e nos filmes O Reencontro (The Big Chill, 1983), onde não fez feio contracenando com um elenco de feras como William Hurt, Kevin Kline e Glenn Close, e na continuação do clássico de suspense Psicose 2, também do mesmo ano, ao lado de Anthony Perkins. A consagração viria em 1986, com a indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo papel de uma jovem e perturbada noviça em Agnes de Deus (Agnes of God), filme de Norman Jewison com Jane Fonda no papel principal - Meg não levou a estatueta, mas foi agraciada com o Globo de Ouro por sua atuação. Ainda apareceria com destaque no drama de época Valmont (1989), de Milos Forman. Meg, entretanto, acabou se cansando dos holofotes e, assim que se casou e teve filhos, em 1995, aproveitou o pé de meia que fez com o cinema, e foi morar no Canadá, onde já havia sido criada desde nova. Hoje, vive tranquila como dona de casa e eventual escritora (tem dois romances publicados).

Com Jane Fonda, em Agnes of God (1986)



Elizabeth McGovern

Lembrada por seus exuberantes olhos azuis e uma beleza clássica comparada à de uma famosa diva, xará sua (Elizabeth Taylor), essa Elizabeth se destacou pelas suas atuações em filmes que marcaram época, como Gente Como a Gente (Ordinary People, 1980), Ragtime (1981), e a grande e última obra-prima do cineasta Sergio Leone, Era Uma Vez na América (Once Upon a Time in America, 1984), com Robert DeNiro e James Woods no elenco, já citada aqui. Depois disso, foi ficando meio sumida em produções um tanto irregulares ao longo dos anos 90 e início dos anos 2000 - fez participações especiais nos sucessos Kick-Ass - Quebrando Tudo, e a refilmagem de Fúria de Titãs, ambos de 2010. Mas pode se dizer que é a única desta lista que continuou mais na ativa, e com um bom destaque, depois de certa idade: até 2015, atuou na popular série de TV britânica Downtown Abbey, como a condessa Cora Crawley.




Mathilda May

Esta escultural atriz francesa se tornou muito conhecida no Brasil devido ao seu impressionante papel de alienígena devoradora de "energias" humanas no clássico de ficção científica dos anos 80, Força Sinistra (Lifeforce, 1985), do diretor Tobe Hopper. Durante as exibições desse filme - que foram várias, na TV brasileira - ocorria uma concentração severa de olhares masculinos observando atentamente Mathilda que, por ser originada do continente europeu e ter passado a maior parte de sua vida estrelando produções de lá, não dominava o idioma inglês, e não falava quase nada durante o filme inteiro - a colocando como uma extraterrestre, o roteiro a privilegiou. Mas o seu corpo falava por ela, e como! Nuazinha em pelo, no decorrer da fita toda, ela vai atacando e matando um monte de pobres terráqueos, que cedem às suas investidas inicialmente amorosas, mas mortais (engana só pra atacar), deixando um rastro de humanos transformados em zumbis, logo pulverizados, reduzidos a puro pó. A salvação da lavoura será um astronauta maluquete que, fascinado pela criatura, vai fazer de tudo para cair nos braços dela, e preparar uma cilada... E daí em diante não vamos falar mais nada, que já é spoiler pra quem é mais novo, não viu, e tem interesse. O filme é muito bom e marcou época, mas depois dele, tirando o destaque no filme alemão Colette - Diário de uma Paixão (1991), Mathilda foi se envolvendo apenas com produções menores de sua terra natal, até o início dos anos 2000, quando foi já gradualmente se aposentando do meio artístico.

A belezura que ficavam as vítimas da alien Mathilda May, no filme





Ornella Muti

Vinda da Itália, essa belíssima atriz iniciou a sua carreira ainda bem novinha, quase adolescente, no começo dos anos 70, e foi ganhando espaço no cinema europeu, até chegar ao cinema americano com um dos maiores clássicos kitsch de todos os tempos: a versão para as telonas do herói espacial Flash Gordon, muito popular nas HQs e cine-séries dos anos 30 e 40, e que foi remodelado para um longa metragem em 1980, na esteira das mega produções de 'Star Wars' e 'Superman' que haviam estourado nas bilheterias. Ornella interpretou com competência a princesa Aura, mas mal imaginava que estava estrelando uma produção até hoje lembrada como uma das mais cafonas e absurdas do cinema de ação, apesar da boa vontade do elenco (com Sam Jones e Max Von Sydow), e da trilha sonora (não muito inspirada) da banda Queen. 

Flash Gordon (1980)

Se tornou um cult movie, já reprisado também diversas vezes nas sessões de filmes do SBT, e hoje assistido entre baldes de pipoca e risadas, pela galera que gosta de curtir obras cinematográficas excêntricas por aí... Mas debaixo de todo o figurino espalhafatoso, a beleza de Ornella é uma das melhores coisas a se conferir, realmente. Teve destaque em mais algumas produções internacionais renomadas nos anos seguintes, como Crônica de um Amor Louco (1981), A Garota de Trieste (1982), e Casanova (1987), dentre outras, sempre explorando a sua sensualidade. A partir de meados dos anos 90, volta a estrelar apenas produções em sua maioria direcionadas ao mercado italiano, onde continua atuando até hoje, de forma mais esparsa.  






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ALGUMAS DEUSAS - MAIS ESQUECIDAS AINDA! - DO CINEMA*

  * Este post é uma espécie de continuação do artigo publicado em 16/10/2024, 'Algumas Deusas Esquecidas do Cinema'. Se você não leu...