Se foi o Príncipe das Trevas, em 22 de julho de 2025. Morreu John Michael Osbourne - Ozzy Osbourne, o grande e lendário vocalista original e membro fundador do Black Sabbath, o famigerado e polêmico ícone solo do heavy metal que ajudou a alastrar ainda mais os domínios do gênero a partir dos anos 80, o inesperado astro de reality show da MTV, o mais tresloucado personagem da cultura pop dos últimos tempos, o pai supremo do rock pauleira.
Ozzy Osbourne is dead. Long live Ozzy.
O surpreendente é que, apenas 17 dias antes, participara do Back to the Beginning, evento agora já histórico, em sua terra natal (Birmingham, na Inglaterra), e anunciado como sua despedida definitiva dos palcos, ao lado dos seus companheiros de Black Sabbath (os originais mesmo: Tony Iommi na guita, Geezer Butler no baixo, e Bill Ward na bateria), e sendo também homenageados por várias bandas famosas presentes, que tocaram covers do grupo, num formato de festival que durou uma tarde inteira.
E acabou sendo de fato uma despedida definitiva.
Era notório que estava perto de acontecer, devido ao debilitado estado de saúde do cantor. Mas com a tal da morte é assim, o baque da notícia é sempre inevitável, e o mundo ficou atordoado quando ela ecoou em todos os veículos midiáticos nesse dia. Ozzy, além de lendário, era uma figura muito querida, e absurdamente simpática, apesar (ou até por causa) de todos os exageros e nuanças caricaturais que permeavam a sua trajetória.
De tão diabólico, se tornou amável. Pois as coisas são assim, no fundo todos sabemos (com exceção dos fanáticos e extremistas) que tudo faz parte do show, é a magia pop da imagem. E ele tinha um carisma e tanto. Ozzy é dessas figuras que se tornaram parte indissociável do folclore do rock e que povoam o imaginário coletivo, mesmo caso de Elvis, John Lennon, Freddie Mercury e Raul Seixas (no Brasil).
Se torna lugar muito comum começar a citar e repetir aqui tudo que já se sabe, e que já tem sido falado e escrito - ainda mais agora, com sua passagem - sobre o mítico e inesquecível Ozzy Osbourne. Poderíamos ficar escrevendo um monte de coisas aqui, que ainda nem chegaria na metade de tudo que há para se falar, de tantos lances irados que pontuaram a vida do cara. A repercussão de sua partida apenas reforçou o quanto Ozzy se tornou emblemático para o heavy metal, o rock, e a música em geral, no mundo inteiro, extravasando em muito a imagem mais simples que existia dele lá nos confins dos anos 70, quando ainda era apenas o crooner carismático do Sabbath, ou na sua transição para a carreira solo, já no decorrer dos anos 80/90, repleta de altos e baixos, momentos sinuosos e incertezas, mas que acabou o consolidando como um grande e inabalável artista, bastante profícuo até, apesar das já folclóricas narrativas sobre exageros com substâncias e polêmicas envolvendo pequenos animais.
Pensamos que neste blog, talvez, a melhor forma de lembrar e homenagear esse ídolo inconteste seja mesmo ouvindo novamente e comentando alguns momentos significativos de sua extensa obra, em nossa humilde opinião - afinal, além de tudo, ele era um cantor, e com certeza, é assim que gostaria de ser mais lembrado: pela sua arte.
Na trindade barulhenta do início dos anos setenta, que estabeleceu as bases para tudo o que viria depois, enquanto Robert Plant (do Led Zeppelin) era o cara mais bluesy e blasé, de tom refinado e trinados bem calculados, e Ian Gillan (do Deep Purple) se apoiava na potência e virtuosismo vocal modulados com o instrumental arrojado de sua banda, devemos lembrar que Ozzy era o menos privilegiado tecnicamente falando, mas o quão genial ele foi ao transformar isso em vantagem, com milhares de pontos a seu favor na medida em que foi capaz de criar um estilo de cantar tão característico, tão seu e marcante, de forma que nunca, jamais aquelas músicas originais do Black Sabbath soariam tão bem, se não fossem com ele. Era como se os seus vocais fossem impressões digitais - ou é daquele jeito, ou nada feito.
E o que era mais admirável: Ozzy era um músico prático. Ele não tinha teoria, o conhecimento musical erudito, sequer sabia ler partituras ou compor usando cifras e notas. Se guiava pela intuição, cantando o que vinha em sua mente e o que sentia que seria melhor para cada composição. Mesmo assim, firmou parcerias formidáveis, com músicos estupendos - basta lembrar da sequência de guitarristas que vai de Tony Iommi, passando por Randy Rhoads até Zakk Wylde - e criou ele mesmo, de cabeça, algumas das maiores melodias do heavy metal.
Então, para celebrar a vida e obra admiráveis desse fantástico artista, vamos ao que realmente interessa: vamos ouvir e comentar algumas músicas de Ozzy Osbourne, em sua carreira com o Sabbath e em sua fase solo. E já vou cravando aqui que essa é uma seleção de 20 músicas altamente subjetiva, do meu gosto pessoal mesmo - resolvi deixar de fora o óbvio, todas aquelas coisas mais manjadas que todo mundo colocaria em uma lista, por pura obrigação histórica (tipo "War Pigs", "Paranoid" ou "Mr. Crowley", por exemplo). O critério aqui foi: quais foram aquelas músicas que, pela primeira vez que eu ouvi, pensei "putz, não daria nunca pra ficar melhor na voz de outro cara, essa é do Ozzy mesmo"!
Eis então as músicas com os vocais mais marcantes do Ozzy, na minha opinião.
No Black Sabbath:
Black Sabbath (disco 'Black Sabbath' - 1970)
Quando o "disco com a capa da bruxa" foi lançado, numa plena sexta-feira 13, de fevereiro de 1970, o mundo nem sequer imaginava o choque e impacto de uma faixa, logo na abertura, em que o clima era de um perfeito filme de terror, com sinos, sons de tempestade, ritmo, e o riff mais sinistro já tocado até então, aliados a uma vez lúgubre, anasalada e chorosa, que de tanta carga emocional e pavor, passava a ecoar urros desesperadores, à medida que a canção alternava para a cadência galopante do heavy metal que seria imitada, copiada, retrocopiada, e regurgitada de tudo quanto é jeito, até hoje. Senhoras e senhores, este era o Black Sabbath, metendo o pé na porta com a sua canção título e símbolo.
Wicked World (compacto c/ 'Evil Woman' - 1970)
Música que originalmente não estava no LP de estreia do grupo, e saiu em um single na Inglaterra com "Evil Woman", se destaca por realçar um estilo vocal que seria regra para Ozzy, em vários momentos de sua carreira: os tons mais graves e nervosos, repletos de tensão, cantados ao longo da letra, evoluindo para notas mais agudas e atmosféricas, assim que as estrofes progrediam ou passavam para o refrão. Com o advento do CD e da música digital, passou a ser incluída nos relançamentos do primeiro disco da banda.
N.I.B. (disco 'Black Sabbath' - 1970)
Outro momento icônico do primeiro álbum da banda, essa é a música que deixou fãs e estudiosos do rock por décadas com grilos na cabeça a respeito da origem da sigla no nome - que nada mais era do que uma brincadeira envolvendo a semelhança do formato da barba de Bill Ward com a ponta de canetas esferográficas. Mas possui um dos ganchos melódicos mais reconhecíveis da história do metal, introduzido pelo baixo de Geezer e acompanhado pela guitarra de Tony Iommi, e sobre o qual Ozzy apoia toda a condução vocal da faixa, apenas alterando e subindo o tom de maneira maravilhosamente melancólica na hora do épico refrão. O exemplo perfeito de como Ozzy e o Sabbath conseguiam transformar o simples e o básico em algo grandioso e insuperável.
Electric Funeral (disco 'Paranoid' - 1970)
Assim como na faixa anteriormente comentada, este petardo do álbum Paranoid tem a performance de Ozzy toda apoiada nas melodias de baixo e guitarra guiadas por Geezer e Tony, mas aqui a ambientação é bem mais soturna e cavernosa, praticamente dando luz ao estilo 'doom metal', um novo gênero do metal que permearia também todo o disco seguinte da banda (o Master of Reality). Muito interessante notar como Ozzy consegue fazer sua voz soar ainda mais sinistra e aterradora do que em outras músicas, interpretando a letra de uma forma quase teatral e usando apenas um mínimo de efeitos de estúdio (um reverb quase imperceptível), ou seja, o cara fazia a coisa na raça mesmo, e estava sem saber criando um estilo de cantar que muitos tentariam emular depois. Sem o mesmo resultado, obviamente.
Solitude (disco 'Master of Reality' - 1971)
Aqui, a coisa rola um pouco diferente. "Solitude" é uma faixa diferenciada, que começa a mostrar novas nuanças no som do Black Sabbath, demonstrando que a banda possuía lirismo musical e buscava mostrar que a intensidade de suas músicas também podia se basear em elementos folk medievais, até mesmo de inspiração celta. Para isso, Ozzy utiliza pela primeira vez uma interpretação suave e inebriante, que muitos até duvidaram na época que fosse realmente dele, e que casa muito bem com as flautas e acordes de guitarra desta mística faixa.
Changes (disco 'Volume 4' - 1972)
Também numa vibe diferente de seu estilo habitual e mais agressivo, Ozzy entrega aqui aquela que, para ele mesmo, era uma de suas melhores interpretações da época do Sabbath - mas que a banda raríssimas vezes executou, por achar que se tratava de uma canção muito lenta e melosa para as tradicionais performances bombásticas da banda em suas turnês, e que tinha sido feita mesmo na base de uma "experiência" musical, para inclusão no repertório do quarto disco (influenciada pelo 'pó branco' de Tony Iommi ao piano, e a dolorosa separação de Bill Ward de sua esposa, na época). A questão é que, com a entrega simples e melancólica da voz de Ozzy, e um refrão pegajoso que até hoje povoa a programação de todas as rádios de flashback do globo terrestre, a balada "Changes" catapultou o nome do Black Sabbath para novas audiências, onde eles jamais imaginariam antes chegar.
Supernaut (disco 'Volume 4' - 1972)
Uma das mais poderosas e inovadoras pauleiras já criadas e executadas pelo grupo, "Supernaut" é o resultado da entrega cada vez mais furiosa de riffs pesados e intensos de Iommi, perfeitamente encadeados com uma cozinha sonora acachapante e arrasadora proporcionada por Geezer e Ward. E Ozzy, por sua vez, começando a explorar a sua extensão vocal de formas cada vez mais ambiciosas também, numa época em que eles simplesmente consumiam a "COCA cola" o dia inteiro, compondo e gravando freneticamente numa mansão luxuosa de Bel Air, Los Angeles (conforme está na própria contracapa do LP, zoeira pura): o resultado é uma verdadeira locomotiva sônica passando por cima do ouvinte, e acabando com tudo e todos. É um dos pontos altos e mais lembrados do quarto álbum da banda.
Looking for Today (disco 'Sabbath Bloody Sabbath' - 1973)
Essa música pertence a uma fase em que Ozzy já estava, assim como no disco anterior, quebrando barreiras e ultrapassando todos os seus limites como vocalista, chegando a atingir aquelas que seriam, talvez, as notas mais altas de sua carreira, como pode se notar pelo refrão. Muito disso se deve em parte a, como ele mesmo disse certa vez, o fato de todos os caras da banda estarem muito "doidões" e indo a mil na criação de novas músicas, turbinadas não só pelo vigor ainda natural da juventude, como também todo o coquetel de estupefacientes que eles consumiam... De qualquer forma, é uma performance vigorosa de Ozzy cantando essa letra sobre confusão mental e a passagem do tempo, provavelmente refletindo o ritmo alucinante em que estavam gravando e excursionando na época, em um disco que também demonstrava um substancial flerte com o rock progressivo.
Sympton of the Universe (disco 'Sabotage' - 1975)
O Sabbath chega em 1975 numa tremenda ressaca de cinco anos de loucura, entrando no primeiro grande hiato de sua carreira ao descobrirem toda a podreira de roubos e desvios financeiros que vinham sofrendo de seu empresário, Patrick Meehan. O clima ficou tão pesado e deprê, que a vida do grupo virou um imenso vai-e-vem de audiências nos tribunais, e o álbum Sabotage (cujo nome já diz tudo, se sentiam detonados pelo cara em quem confiavam) ganhou as ruas sendo aclamado como um dos mais pesados e agressivos trabalhos feitos pela banda, reflexo de toda essa frustração e neura que estavam sofrendo. Assim sendo, não é de se estranhar que faixas como essa sejam uma porrada acelerada e tão mastodôntica, que seja considerada a precursora do thrash metal: os vocais de Ozzy são agonizantes, berrados e caóticos mesmo, o "yeaaah" gritado por ele soa como se fosse o último urro de vida de um condenado à insanidade eterna, primal e cheio de raiva.
Megalomania (disco 'Sabotage' - 1975)
Outra faixa do Sabotage, outro petardo épico, essa longa viagem onírica pelo reino da desilusão contém alguns dos vocais mais bem elaborados de Ozzy em seu período sabático - ele passeia com desenvoltura pela melodia melancólica da primeira parte da música, mais lenta, e depois desembesta no frenesi de um estilo vocal rascante e mais alto, da segunda parte em diante, chegando a um clímax memorável, mediante a saraivada de solos homicidas de Tony, e a pancadaria de baixo e bateria promovida por Geezer e Bill. Uma das melhores músicas do Black Sabbath desde sempre, no meu parecer.
Air Dance (disco 'Never Say Die' - 1978)
Na reta final de sua fase com o Sabbath clássico, Ozzy nos delicia com uma interpretação sensível e comovente, bastante caprichada nos agudos, para contar uma história alusiva aos sonhos frustrados de uma dançarina, em um embalo bem exótico para o Sabbath, que beira o jazz rock e elementos mais pop no som do grupo - Never Say Die, o último trabalho do cantor com a banda antes de sair em carriera solo, foi considerado por muitos anos um álbum inferior, mas a sua importância e influência vem sendo revisitadas em avaliações mais recentes, emoldurando o seu caráter eclético e diferenciado na discografia do Sabbath, e fazendo com que seja redescoberto por toda uma nova geração de fãs.
Em carreira solo:
Crazy Train (disco 'Blizzard of Ozz' - 1980)
Ozzy embarca em sua carreira solo com tudo, pilotando alucinadamente o "trem doido", que se tornaria uma das marcas registradas de seus shows, e um de seus maiores sucessos. O famigerado estilo vocal desenvolvido com sua banda anterior se torna aqui mais fluído, limpo e dinâmico, se encaixando também no som de sua nova banda, que passa a receber, inicialmente, o mesmo nome do disco de estreia solo ('Blizzard of Ozz', um trocadilho com o nome do célebre 'Wizard of Oz', O Mágico de Oz). Era o início da onda de metal rápido, poderoso e repleto de virtuosismo técnico dos anos 80, que vinha com as bandas Van Halen, Iron Maiden, e os discos mais recentes do Judas Priest, dando vigor para a rápida expansão mundial do gênero, e que no caso de Ozzy, tinha no exímio e precoce talento do jovem guitarrista norte-americano Randy Rhoads o seu principal representante. Rhoads, antes um tímido professor de violão clássico e fã de música erudita, que começara tocando guitarra na banda Quiet Riot, seria de fundamental importância para a criação das primeiras composições de Ozzy e o desenvolvimento de um estilo próprio para ele, nos princípios de sua carreira solo (como o cantor mesmo declararia, diversas vezes depois). E apesar de toda a imagem satânica que acompanhava e estigmatizava o cantor, desde o Black Sabbath e que agora passaria a ser mais explorada ainda pela mídia, as letras de suas canções continuavam dando deixas de que o negócio do cara era passar uma mensagem positiva, e muitas vezes falar sobre o amor, ainda que na maioria das vezes fosse mal interpretado (vide o trecho que diz: "talvez não seja tarde para aprender a amar, e se esquecer de como odiar").
Revelation (Mother Earth) (disco 'Blizzard of Ozz' - 1980)
Esta subestimada balada, também do primeiro disco solo de Ozzy, é um dos momentos mais melancólicos da nova fase do cantor, com vocais e letra inspiradíssimas, além de pioneiras: em pleno início dos anos 80, pode ser considerado o primeiro grande hino ecológico, profetizando a ruína do planeta e as mazelas da destruição da natureza. Enquanto Ozzy realiza verdadeira imprecação dolorosa e cheia de apelo, cantando sobre o iminente fim da raça humana, o perfeito entrosamento melódico entre Randy Rhoads e o tecladista Don Airey (outro fera da banda de Ozzy) prenuncia muito do que o prog metal faria anos depois, num trabalho genial e cheio de feeling. Uma obra-prima, sem dúvida.
You Can't Kill Rock n' Roll (disco 'Diary of a Madman' - 1981)
Se tem uma música que se tornou praticamente uma elegia à carreira e à figura de Ozzy, naquela sua primeira fase solo com Randy Rhoads, podemos dizer que essa é a mais forte candidata. Declaração pungente de amor ao gênero musical que fez com que ele fosse salvo de uma vida desprezível como operário no bairro pobre de Aston, em Birmingham, e ganhasse o mundo, essa música tem Ozzy entregando uma de suas melhores e mais emotivas performances, com Rhoads e banda fazendo misérias no instrumental. Olha o nome também: "você não pode matar o rock n' roll". Tristemente, o que se seguiu ao lançamento e turnê deste disco, todo mundo já sabe: em março do ano seguinte, devido a um dos mais estúpidos acidentes da história do rock, causado por um louco fazendo gracinhas em um passeio de helicóptero desgovernado, Randy Rhoads perderia tragicamente a vida, deixando uma tremenda lacuna na vida e na carreira de Ozzy.
So Tired (disco 'Bark at the Moon' - 1983)
Bark at the Moon é a retomada da locomotiva doida. Era o madman Ozzy recolhendo os cacos do baque causado pela partida de Rhoads e tentando reconstruir tudo, com a ajuda de um novo guitarrista (Jake E. Lee, também muito bom!), e agora remodelando o seu som rumo ao estilo que passaria a dominar na época: o hair metal (ou glam metal), com muita roupa colorida espalhafatosa e laquê no cabelo, os clipes da MTV passando a dominar geral e ditar moda para uma nova geração de jovens roqueiros, gente como Def Leppard, Motley Crue e Bon Jovi tomando conta da área, e um Ozzy de cabelos loiros, platinado e fanfarrão, com cara de tio gordo e pinguço, também voltando a cair na estrada, com a turnê que traria o nosso herói pela primeira vez ao Brasil, algum tempo depois (em janeiro de 1985), para o primeiro e mitológico Rock in Rio! Dessa época, é óbvio que as rádios FM iriam escolher a 'baladinha' do disco mais recente do cantor para tocar até furar nas paradas - e nisso, "So Tired" passou a rodar direto no dial. Uma música que Ozzy, na verdade, nunca gostou muito, dizendo que foi imposição da gravadora para dar um destaque mais pop ao álbum, mas que falemos a verdade: é uma bela composição sobre relacionamentos amorosos, tem alguns versos bem bacanas como "eu fiquei em casa permanecendo verdadeiro, enquanto você fazia o que bem entendia", e linhas vocais super grudentas e legais do Ozzy. Tocou até não poder mais, e introduziu e elevou o nome do cantor para muita gente que ainda não o conhecia.
Killer of Giants (disco 'The Ultimate Sin' - 1985)
Continuando a empreitada do disco anterior, mas de forma ainda mais exagerada e conectada com o universo estético, sonoro e visual do glam, o disco The Ultimate Sin é hoje uma pérola meio esquecida na discografia de Ozzy, ele mesmo não era muito chegado em executar as músicas do álbum em suas últimas turnês antes de ficar doente, mas não há como negar que "Killer of Giants" é uma pequena obra-prima, uma emocionante e anti-bélica power ballad que possui alguns dos melhores momentos vocais dele, já pendendo para uma tonalização mais grave e sombria, e que discute os terrores do futuro da humanidade diante da ameaça atômica - um tema predominante no disco e que, volta e meia, se torna atual de novo, infelizmente.
Shot in the Dark (disco 'The Ultimate Sin' - 1985)
O principal single de Ultimate Sin, esse petardo pop metal é mais uma prova de que Ozzy estava perfeitamente conectado ao seu tempo - é impressionante, ele nunca saía de moda, se adaptava a todos os estilos de rock pesado e dava certo em tudo. Com um impactante trabalho instrumental, e uma entrega vocal perfeita, Ozzy fazia frente a medalhões da época como Whitesnake e Journey. E não decepcionava.
Mr. Tinkertrain (disco 'No More Tears' - 1991)
Início da nova década: anos 90, e toda uma nova geração de bandas chega para dominar o cenário. O grunge de Seattle está em franca ascensão, as únicas bandas pregressas dos 80 que ainda conseguem se manter são os Guns N' Roses e Metallica (justamente por serem mais radicais, fora da casinha), e de repente um estilo de rock mais cru e direto, bebendo direto de fontes setentistas, é o que passa a se tornar a nova regra. Após um período de tempo se limpando dos vícios, se reinventando (inclusive visualmente, voltando ao visual magro e cabelos naturais, no tom original), e agora montando uma nova banda mais de olho nas altas sonoridades, eis que ressurge o Príncipe das Trevas, justamente o cara que era símbolo de uma daquelas bandas esquecidas dos primórdios, e que agora voltava a ser uma das mais cultuadas: o Black Sabbath. E como que ele faz isso? Simplesmente lançando aquele que é considerado, até hoje, o mais glorioso e bem acabado álbum da fase mais recente (e final) de sua carreira: o legendário No More Tears. Nisso tudo, há reminiscências do velho Randy Rhoads - elevado à categoria de novo mestre das guitarras de Ozzy e fiel parceiro, está outro jovem talento americano, o também louríssimo e sagaz Zakk Wylde, uma fera nas seis cordas, sem precedentes. E abrindo os trabalhos, a faixa cujo clipe contaminou a MTV da época, e já anunciou a nova febre de Ozzy Osbourne que viria a partir de então: a bluesy, assombrosa, e tonitruante "Mr. Tinkertrain". Artilharia sonora de respeito, as velhas artimanhas e peripécias vocais agora ainda mais aprimoradas, e produção perfeita, som com peso e melodias certeiras, tudo vingando e se tornando um grande sucesso. Como diria a personagem de Mrs. Moneypenny em 007 - Skyfall: "cachorro velho, truques novos". E que truques.
No More Tears (disco 'No More Tears' - 1991)
A faixa-título do disco, é uma assombrosa e inovadora tour épica à paranoia e às declaradas influências dos Beatles na carreira de Ozzy (ouça o tecladinho na virada da música que alude a "Strawberry Fields Forever"), e um de seus melhores e mais criativos trabalhos vocais de sempre, sem dúvida alguma. Com o baixo de Bob Daisley predominante na gravação, dando o tom para uma chuva de guitarras e tecladeira que aproximam o metal e o progressivo de forma magnética e estarrecedora, Ozzy deita a voz atmosférica com seu lirismo típico e lancinante, tão característico. Em entrevistas e relatos que fazem parte de cenas do documentário de 1992, Don't Blame Me (que registrava os bastidores das gravações do álbum), Ozzy baixou a retaguarda e contou, emocionado, como o conjunto de excessos dos anos anteriores já o atingiam, fazendo com que ele tivesse que se esforçar muito para que conseguisse atingir as notas mais altas da música. O trabalho duro foi recompensado com aquela que é uma das melhores e mais lembradas canções de Ozzy Osbourne, para sempre.
Mama, I'm Coming Home (disco 'No More Tears' - 1991)
Uma das 4 composições para o álbum feitas em parceria com o amigo de longa data Lemmy - outro figuraça também já falecido, líder do Motorhead - essa é a música que provavelmente ficará na lembrança de todos como a elegia final de Ozzy, interpretada por ele de forma extremamente emocionante e pungente no show do Back to the Beginning, de 05/07/2025, e fechando o setlist de sua carreira solo na apresentação. Uma balada lindíssima, calcada no country, com uma pegada acústica de fazer as lágrimas rolarem, e segunda parte com solo inspiradíssimo de Zakk Wylde. Os vocais do 'madman' atingem aqui a sua máxima maturidade e plenitude: é Ozzy explorando todas as regiões na responsa e com a melhor qualidade, pra ninguém botar defeito. E detalhe: ao contrário do que muitos pensam, a "mama" do título não é uma referência à progenitora do cantor, mas sim, à sua esposa Sharon, que ele chamava dessa forma e a quem ele dedica essa canção. Quem ouve essa e não se emociona, é porque já parou o batimento cardíaco e saiu dessa vida, há muito tempo.
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