Ser um empresário, cuidar da carreira e dos negócios de alguém, é algo importantíssimo para o sucesso e a relevância de uma empreitada artística - principalmente hoje em dia, em que tudo é calculado, projetado e monetizado, com base em exposições, opiniões, redes sociais, contatos para eventos e diversos tipos de divulgação, em transações comerciais e publicitárias.
E se hoje, num cenário em que acaba soando muito mais fácil expor e alastrar a imagem de um projeto ("soando", não quer dizer que realmente seja), imagina como era lidar com isso outrora, nos tempos em que nem se sonhava com internet, e quando os meios de comunicação eram um monstro moroso e dispendioso, em que o caráter financeiro de uma empreitada era muito mais preponderante do que nos dias atuais. Século 20 e suas décadas passadas, o auge da expansão pop nos anos 60, 70, 80 e 90... Tempos em que, para fazer acontecer, você tinha que 'azeitar' muito mais a máquina dos grandes conglomerados midiáticos - jornais e revistas, televisão, rádios, gravadoras. Toda uma engrenagem que se movia de forma mais vagarosa, para massificar novos talentos que pipocavam aqui e ali, e muitos vingaram e conseguiram se sobressair, galgando os degraus da fama. Ao passo também que muita gente boa não teve um merecido reconhecimento, e ficou pra trás ao relento, jogada pra fora da ribalta e no limbo do ostracismo.
Mas há casos memoráveis (e assombrosos) em que um empresário pode ser tanto a chave para o êxito do seus artistas, quanto para o seu eventual declínio e destruição.
Hoje, vamos relembrar aqui 3 dessas situações, famosas - e com alguns fatos que há muito já adentraram para o terreno das lendas - que demonstram como a fama e o poder podem subir na cabecinha de quem está lá nos bastidores, comandando tudo do lado de trás das coxias, e corromper e trazer a danação de estrelas da música que alegraram tanta gente. Mas que acabaram afundadas em muita tristeza, dívidas, e cenas deprimentes, por conta daqueles que melhor deveriam cuidar deles e de suas carreiras... Com vocês, a 'trindade tóxica' do gerenciamento!
Coronel Tom Parker (Elvis Presley)
Um dos caras mais malandros que já transitou pelo showbiz até hoje, nascido Andreas Cornelius Van Kuijk, na Holanda, em 1909, ele migrou ilegalmente para os EUA no início do século 20, se especializando nas artes do trambique e do ilusionismo, e já na década de 1930, por volta de seus vinte e poucos anos, trabalhava de itinerante na Royal American Shows, uma companhia circense que cruzava o país, e onde ele aperfeiçoou ainda mais as suas técnicas para manipular e ludibriar o público. São míticos os "causos" de como ele inventou um número de "galinhas dançantes" no circo, utilizando escondido uma chapa aquecida que fazia as pobres coitadas pularem sem parar, ou de como criara um número de mágica em que o pessoal da plateia ganhava cachorros quentes sorteados, mas na hora em que iam comer o sanduíche, uma cordinha puxava a salsicha pra fora e mordiam só o pão. Picareta que só ele, passou a utilizar a alcunha Tom Parker, e já em 1945, enveredou pela aventura de empresariar artistas (que ele acabou conhecendo graças aos shows de circo), sendo que, ao promover o cantor country Eddy Arnold, ele recebeu o título honorário de "coronel" do governador da Lousiana, Jimmy Davis, devido a uma troca de "favores" para facilitar uma turnê dele naquele estado. Ali, Parker já começava a desenvolver uma artimanha que faria parte do seu modus operandi por todo o resto da carreira, e que ele aprimoraria muito com Elvis: colocar o artista para morrer de trabalhar e faturar o máximo possível, revertendo em grandes lucros e vantagens pessoais para o empresário.
A grande virada na vida do Coronel Tom Parker foi encontrar a sua "galinha dos ovos de ouro" no ainda jovem e inexperiente Elvis Presley, que ele ficou conhecendo durante uma pequena turnê do cantor nas cercanias de Memphis, após ouvi-lo algumas vezes no rádio, e pensar que se tratava de um artista negro. Foi por intermédio do próprio empresário e dono da gravadora onde Elvis começou sua carreira, Sam Phillips (da Sun Records), que ele e Parker começaram a negociar, com fins de que ele se tornasse o seu próximo e definitivo empresário: na época, Phillips sabia que Elvis estava se tornando "grande demais" para o círculo da Sun Records, e ele passou o contrato de Elvis adiante na boa fé, como uma forma de protegê-lo de outros promoters e empresários que ele considerava raposas e mal intencionados. Mal sabia ele como era o Coronel...
O caipira Elvis e seus ainda mais simplórios pais não tinham muito para onde correr mesmo. Apesar de sua mãe, Gladys, nunca ter ido muito com a cara do Coronel, seu pai (Vernon) achava ele de boa, e sabiam que, com a fama meteórica do filho, cada vez mais em ascensão, era preciso um conjunto de boas estratégias para aproveitar o momento, com o calor do nascente rock and roll, de que Elvis era o porta-voz e ícone absoluto. Pela primeira vez na história da música popular, ocorria o fenômeno do 'ídolo da juventude', hoje tão vulgar e banalizado. E verdade seja dita, por mais mala que o Coronel Tom Parker fosse, ele também tinha suas qualidades: foi o primeiro empresário a desenvolver e explorar técnicas de divulgação e comercialização intensa da imagem de um cantor pop, fazendo com que a figura de Elvis passasse a aparecer em uma infinidade de programas e produtos, e com centenas de músicas e discos sendo gravados e produzidos em uma velocidade impressionante, para explorar o boom artístico e não deixar que seu nome esfriasse - para estar sempre 'em evidência', e não deixar a marca morrer.
Com a morte da mãe de Elvis, sua confidente e grande mentora sentimental, no finalzinho dos anos 50, justamente num período em que ele saía de cena para cumprir o serviço militar dos EUA em uma base na Alemanha, e encerrava a fase inicial de sua carreira, Parker se viu totalmente livre para expandir todo o seu domínio sobre a projeção artística de Elvis, tornando o cantor o que ele achava que ele deveria ser, para continuar fazendo sucesso: dali em diante, o que se viu foi uma mudança radical na postura de Elvis, deixando a imagem de jovem rebelde de sua origem, as músicas mais agressivas e viscerais, e se afundando no paradigma de uma nova espécie de "Frank Sinatra das novas gerações", crooner romântico e ator caretão, dos inúmeros filmes de travessuras havaianas e números musicais insossos transbordando garotas, produzidos simultaneamente, quase que em escala industrial, e deixando o Rei do Rock enclausurado em intermináveis contratos com os estúdios de Hollywood.
Além de se esgotar de tanto rodar filmes ao longo de todos os anos 60, Elvis também era refém de uma outra curiosa prisão, e também por causa de uma exigência de Parker: ele foi, talvez, o único grande artista norte-americano, de renome internacional, que se apresentava apenas em território dos EUA, e não fez turnês cantando ao redor do globo. O máximo que o Coronel permitira foi uma rápida série de shows no país vizinho Canadá, em 1957, e muitos anos depois, o lendário show transmitido via satélite do Havaí, em 1973, que geraria o disco e especial de TV Aloha From Hawaii, e o porquê disso? Simples: como era um estrangeiro ilegal na gringa, o Coronel Tom Parker tinha medo de, ao acompanhar Elvis em turnês internacionais, não conseguir voltar a entrar depois na terra do Tio Sam.
Apesar de um breve desentendimento em 1968, quando Elvis e o Coronel divergiram por conta do direcionamento do musical Elvis Comeback Special, apresentado como especial de Natal pela rede de TV NBC, e o cantor bateu o pé para parar com a produção de enxurradas de filmes, logo uma nova manobra de Parker tomaria a cena, atrelando Elvis a uma série de apresentações no célebre Las Vegas International Hotel, para pagar inúmeras dívidas de jogos nos cassinos, que o empresário havia contraído nos últimos anos - sequência mostrada detalhadamente na premiada cinebiografia Elvis (2022), de Baz Luhrmann.
De prisioneiro dos filmes de Hollywood, para prisioneiro dos shows cafonas de Las Vegas: assim Elvis chegava à última fase de sua carreira, o estágio final, das roupas brancas, espalhafatosas e cravejadas de joias, de um Elvis cada vez mais suado, de olhares perdidos e acima do peso, se apresentando sucessivamente e com problemas de saúde e exaustão, para pagar as contas - dele e do Coronel, dívidas e mais dívidas. E para dar conta da pressão, drogas e mais drogas. Legais, de farmácia, mas conseguidas aos montes por força de prescrição médica. De quem? De um velho conhecido do Coronel, o famigerado Dr. Nichopoulos...
O desfecho, todos nós já sabemos. Talvez um pouco menos de correria, e tratamentos médicos adequados, pudessem ter tirado Elvis da espiral descendente dos seus últimos meses de vida, e ter dado uma sequência diferente aos acontecimentos que culminaram no dia 11 de agosto de 1977. Talvez sim, talvez não. Mas apenas em 1980 - ou seja, ainda três anos após a morte do cantor - é que a verdade sobre os abusos financeiros do Coronel Tom Parker sobre as finanças do Rei do Rock foram esclarecidos, com a contratação de um advogado de Memphis, Blanchard Tual, para cuidar do espólio de Elvis e preservá-lo para sua filha, Lisa-Maria Presley. Ele descobriu que, só nesse período, Parker já havia desviado mais de 8 milhões de dólares do espólio de Elvis para suas contas pessoais, além de não ter registrado diversas músicas do cantor na BMI, o órgão americano de arrecadação de direitos autorais. Rapidamente, um devido processo legal foi impetrado, de forma a banir o Coronel definitivamente do controle sobre as obras do cantor, que passaram a ficar somente sob o domínio da família.
Em janeiro de 1997, doente e com sequelas de um derrame, falecia o Coronel Tom Parker, aos 87 anos, esquecido no leito de um hospital de Las Vegas.
Um tanto quanto adepto da "escola Tom Parker", a sinistra trajetória do inglês Mike Jeffery, como gerente do maior gênio da guitarra elétrica de todos os tempos, o lendário Jimi Hendrix, é uma sucessão de fatos sombrios e duvidosos, que amplia ainda mais a aura de perversidade e infâmia dessa misteriosa figura, nascida em Londres, em 1933.
Jeffery começou agenciando diversos grupinhos pop ingleses a partir do início dos anos sessenta, muitos ainda sem expressão e no circuito de clubes de rythim n' blues britânico, mas a coisa começou a decolar mesmo assim que passou a empresariar o grupo vindo de Newcastle, The Animals, que estourou nas paradas inglesas - e posteriormente, norte-americanas e mundiais - com sua versão dramática do blues tradicional "House of the Rising Sun", em 1964, alavancando eles como o terceiro grupo a fazer parte do que passou a ser chamado de 'Invasão Britânica', quando bandas de todas as partes da Inglaterra passaram a fazer sucesso avassalador na América. Os dois grupos anteriores, obviamente, eram os Beatles e os Rolling Stones.
O que poucos imaginavam era que um passado obscuro fazia parte da vida de Jeffery. Não raro, ele era visto entrando e saindo de pubs na mais famosa região do crime organizado londrino, o bairro de Hackney, onde drogas e jogatina comandadas por grupos da máfia inglesa acabavam gerando muito puxa-faca e execuções sumárias. Havia também suspeitas, não confirmadas, ligando ele a um passado de informante do serviço secreto de Londres (o MI6) - segundo figuras próximas, mais um álibi utilizado por ele para justificar as ligações que tinha com contatos do submundo inglês, incluindo traficantes e gangsters.
Uma das histórias "sujas" contadas a respeito de Jeffery era ainda da fase inicial em que ele fora agente dos Animals - o conhecido cantor do grupo, Eric Burdon, não gostava nada do tipo calado, taciturno e ameaçador de Jeffery, um cara que, segundo ele, "falava baixo enquanto podia tranquilamente te esfaquear pelas costas". Segundo Burdon, Jeffery fora o responsável por incendiar uma das mais famosas casas de show de Nescastle, onde os Animals começaram, a Marimba, apenas para obter o dinheiro do seguro. De acordo com Burdon, também, as intrigas que o próprio Jeffery criava na banda, sempre prometendo pagamentos que nunca eram realizados, foram um dos motivos pela separação da formação original do grupo, em 1966.
De qualquer forma, a ligação de Jeffery com os Animals acabaria rendendo a sua mais famosa reputação, como empresário do espetacular e lendário guitarrista norte-americano Jimi Hendrix, assim que ele aportou em Londres e estourou para a fama mundial. Chas Chandler, o baixista dos Animals, originalmente seria o empresário de Hendrix - mas, diante da estafa de ter que mexer com vários contratos financeiros, e diligências para a realização de cada vez mais shows e turnês, resolveu se firmar apenas como produtor artístico de Hendrix, chamando Mike Jeffery para ocupar essa parte mais burocrática.
E foi aí que a vida (e o sossego) de Jimi Hendrix foram para o saco, literalmente.
Disposto a fazer com que Hendrix lucrasse o mais que pudesse, no mais curto espaço de tempo, Jeffery praticamente soterrou o músico em contratos de apresentações e gravação - por mais absurdos que fossem. Para uma das primeiras turnês norte-americanas de Hendrix com seu grupo (o Experience), Jeffey simplesmente os colocou excursionando com ninguém menos que os Monkees, grupinho pop adorado por adolescentes que era uma resposta debochada aos Beatles, uma proposta muito longe do lance mais sério e maduro que o Jimi Hendrix Experience tinha, em relação ao público e a música que apresentavam. Durante todo o período do final de 1967 e início de 1968, eram praticamente um ou dois shows por noite direto, intercalados apenas por sessões de gravação e a peleja desesperada de Hendrix de, no meio disso tudo, ainda conseguir realizar o seu sonho de montar um dos mais modernos estúdios de gravação da época - o que se tornaria o Electric Lady, em New York.
Nem é preciso dizer o estresse que seria gerado a partir dessa loucura toda, ampliado por doses cavalares de substâncias lisérgicas, e um clima de "pega pra capar" entre Hendrix e os membros de sua banda (especialmente o baixista Noel Redding), que se tornaria constante, devido aos ânimos exacerbados.
É aí que muitas testemunhas dessa lendária época se lembram de alguns fatos que pegaram muito mal para Mike Jeffery. Noel Redding, particularmente, tinha também especial ojeriza do cara, e relataria anos depois em entrevista: "Era 1969, e em uma de nossas últimas turnês pela Europa, eu vi Jeffery terminando de encher umas três malas, com dinheiro vivo, antes de sair de seus aposentos no hotel em que estávamos. Era muita grana. Foi quando não me segurei de curiosidade, cheguei nele e perguntei: 'ei, Mike, pra que esse dinheiro todo?', ao que ele foi meio ríspido comigo, resmungou alguma coisa sobre os gastos que tínhamos com o transporte de equipamentos, as viagens e tal, e desconversou, saindo pela tangente. Mas eu desconfiei na hora que tinha alguma coisa de muito errada naquilo lá."
Duas semanas depois dessa 'ousadia' de se meter aonde não era chamado, e ainda que suas discussões com Jimi Hendrix fossem mais por questões musicais e artísticas, Redding seria simplesmente demitido do Experience. Coincidência?
Outra situação que soa ainda mais grave, e acende uma luz vermelha a respeito das reais intenções de Jeffery em relação a Hendrix, foi o fato de, em uma certa época, ele ter levado uma imensa pilha de contratos e folhas de pagamento para Hendrix assinar - e este, na boa fé, simplesmente exausto e sem perceber atentamente no que estava pondo a caneta, teria assinado uma apólice de seguro de vida. E que incluía Mike Jeffery como beneficiário exclusivo, no caso de sua morte.
O baixista Noel Redding é uma das pessoas que tem certeza que Jeffery não teria escrúpulos em planejar algo tão ardiloso, a ponto de arquitetar para que tudo indicasse para uma morte acidental de Hendrix, de forma que ele pudesse receber o dinheiro do seguro sem problemas. Era mais interessante ou lucrativo para ele do que continuar faturando com a carreira do guitarrista?
Infelizmente, alguns fatores apontam que sim: primeiro, o contrato de Jeffery como empresário estava prestes a terminar, no início de 1971, e Hendrix já havia dado claros sinais de que estava insatisfeito com a condução dele nos negócios - Jeffery, inclusive, vinha implicando há tempos com o envolvimento cada vez maior de Hendrix e músicos amigos seus nas gravações de estúdio, dedicando seu tempo cada vez mais ao novo Electric Lady, e cada vez menos aos shows ao vivo, que rendiam uma fatia gorda dos honorários para Jeffery como empresário. Hendrix já havia confidenciado a algumas pessoas que ele não estava disposto a renovar o contrato de Jeffery como empresário, ou seja, era final de linha para ele. E o segundo fator que agravava mais a situação: Jeffery estava com dívidas pesadíssimas com o pessoal da máfia de Londres. Numa certa noite de 1968, um pouco antes de saírem em turnê, ele recebeu em sua casa a visita de dois velhos "conhecidos" armados, e só não perdeu a vida, ali mesmo, pois conseguiu ir com eles ao banco, para passar um adiantamento de 20.000 libras que eles estavam cobrando. Era só o começo do pagamento, e eles prometeram que iriam voltar pra receber o restante.
Ou seja, sem garantir o seu, Jeffery era cabra marcado pra morte.
Era vaidoso, gostava de badalar, de se vestir bem, de fazer viagens e ir a restaurantes caros com belas mulheres. Pressionado, ele teria que logo colocar o plano em ação.
Uma pessoa que afirma que conseguiu ouvir, da própria boca de Jeffery, que teria sido ele sim o responsável pela morte de Jimi Hendrix, foi um ex-assessor dos Animals com quem o empresário ainda tinha contato no início dos anos 70, James 'Tappy' Wright - ao contrário da versão oficial, de que o guitarrista teria acidentalmente morrido sufocado com o próprio vômito, encontrado inconsciente em um hotel onde estava com sua namorada alemã em, Londres, após uma overdose de remédios para dormir. De acordo com ele, foi um daqueles desabafos regados a muito álcool e cigarro, numa noite após uma festa, em que Jeffery parecia estar especialmente angustiado com algo em sua "consciência acusadora". Após a morte de Hendrix, ele vinha lucrando bastante com o legado do músico, ao promover o lançamento de filmes e documentários com apresentações dele, em vários países. E volta e meia repórteres e jornalistas perguntavam a ele sobre Hendrix, como ele era, se sentia falta dele...
"Oh, James, o que eu poderia fazer? O que??? Eu estava acuado. Eu precisava da grana. Eu não queria, eu não queria realmente. Mas eu precisava, estava sendo ameaçado. Então eu paguei os caras... Dois deles seguraram ele pelos braços, ele já estava meio desacordado por causa das pílulas... Mas eu mandei eles embebedarem ele de vinho, bastante vinho goela abaixo, e fazer ele engolir mais pílulas."
De fato, algo que Hendrix não era dado a fazer era beber muito. Um dos médicos legistas responsáveis pela autópsia ficou espantado com a quantidade de vinho encontrado no esôfago e estômago do músico, além dos entorpecentes. Era preciso garantir que tudo parecesse algo do acaso, e jamais lembrasse um crime; e era preciso garantir que uma mistura fatal fizesse ele apagar de vez e ficar sem reações, para não mais acordar. Não acordar nunca mais.
Curiosamente, Jeffery estava muito incomodado e agitado naquela noite da 'confissão'. Depois, não quis mais voltar ao assunto, nem falar mais nada, com ninguém. Mas andava muito nervoso e tenso ultimamente, algo parecia incomodar e o comer por dentro. E foi apenas um mês e alguns dias depois desse episódio que um avião em que ele estava, um DC-9 comercial da companhia Iberia Airlines, misteriosamente se chocou com um outro, enquanto estavam sobrevoando a região de Nantes, na França. Não sobreviveu ninguém. Teria sido algo armado, estaria Jeffery devendo e sendo pressionado novamente?
Nunca saberemos. Aquele fatídico desastre aéreo em 5 de março de 1973 acabou de vez com a chance de elucidar todas as fartas especulações em torno da trágica morte de Jimi Hendrix.
Allen Klein (Beatles e Rolling Stones)
Para terminar, o manager que conseguiu a proeza de colocar, em seu currículo, serviços prestados para as duas maiores bandas de rock de todos os tempos. O judeu Klein talvez seja o menos 'polêmico' dos 3 empresários abordados aqui, mas nem por isso foi menos troglodita em termos de promover intriga, querer arrastar muita grana para si, e faturar alto com os artistas que agenciou - a sua reputação ficou mais encardida do que grelha de churrasqueira assim que, certo tempo depois, os fãs dos Beatles descobriram que foi graças a ele (e não a Yoko Ono, como muitos pensaram durante anos) que a relação entre os rapazes de Liverpool azedou, e a banda acabou.
Nascido em Newark, New Jersey, em 18 de dezembro de 1931, de uma família de imigrantes judaico húngaros, Klein atuou em várias atividades contábeis do ramo comercial, até começar a trabalhar com auditorias financeiras para pequenas e médias gravadoras. A sorte começou a sorrir grande para ele quando, num golpe de sorte, conheceu no início dos anos 60 o promissor cantor pop Bobby Darin (autor de "Splsh Splash", hit depois regravado no Brasil por Roberto Carlos), e descobriu que o mesmo estava sendo passado pra trás em pagamentos de royalties por sua gravadora na época. De estilo agressivo e fanfarrão, sempre fazendo impor sua vontade nas mesas de negociação, Klein conseguiu para Darin um polpudo ressarcimento por danos, no valor de 100.000 dólares (uma fortuna naquele tempo), e com isso, um passaporte para o sucesso como empresário e agenciador de artistas da música, fazendo o seu nome ecoar nos dois lados do Atlântico.
Foi assim que ele foi contatado por Mick Jagger, dos Rolling Stones, que ficou sabendo de sua fama e gostou do que ouviu. Por volta de 1966, a banda já estava com a paciência esgotada em relação ao seu empresário original, o jovem Andrew Loog Oldham, que, perdendo a cabeça com outros negócios e cada vez mais afundado nas drogas, estava deixando o dinheiro dos Stones escoar em acordos malfeitos e contratos fajutos, os deixando cada vez mais endividados com o pesado imposto de renda britânico.
A parceria entre Allen Klein e os Stones, inicialmente, foi boa - como empresário, ele conseguiu notáveis adiantamentos nos contratos da banda com a gravadora e promotores de shows. Entretanto, logo Mick Jagger - ex-estudante de economia, e sempre mais astuto e ligado nas finanças do grupo - percebeu que algumas coisas estavam erradas, e saindo fora do controle. A comissão de Klein por seus serviços ia aumentando gradativamente, a cada pagamento, e dentro de algum tempo, os Stones descobririam, estarrecidos, que o empresário havia se apoderado dos direitos sobre a exploração comercial de alguns dos maiores hits da banda, como a lendária "Satisfaction", e "Sympathy for the Devil", entre outras. Para se ter uma ideia do rolo, até hoje Jagger e Keith Richards, os autores desses clássicos do rock, não possuem seus direitos de vendagem, que ficaram atrelados à companhia criada por Klein, e são exploradas e rendem dinheiro em vídeos e streaming para ela até o presente momento - a ABKCO. Um tremendo golpe.
Agora vem a pior parte da história: quando Jagger, por volta de 1968 e já cansado das trapaças, conseguiu finalmente romper o contrato entre Klein e os Rolling Stones, ele encontrou seu velho amigo John Lennon, dos Beatles, em uma festa, e conversa vai, conversa vem, passaram a falar sobre como iam as finanças das duas bandas. Lennon confessou que as coisas já não andavam bem internamente entre os Beatles, a companhia criada por eles para o gerenciamento dos seus negócios, a Apple Corporation (não confundir com a futura empresa de computadores de Steve Jobs), já não estavam indo bem das pernas, teriam que decretar falência, e os perrengues por conta de dinheiro perdido com estratégias furadas só piorava o clima entre os membros do grupo. O mais descontente era o parceiro Paul McCartney que, já de namoro firme com a fotógrafa americana Linda Eastman, sua futura esposa, empombaria que os Beatles deviam porque deviam entregar o gerenciamento dos negócios da banda ao pai de Linda, o experiente advogado nova-iorquino Lee Eastman.
Em resposta, Jagger comentou que durante um bom tempo o dinheiro dos Stones também não havia sido bem cuidado, que eles tinham acabado de romper com Allen Klein, e que agora eles mesmos iriam gerir seus negócios, com a criação de um novo selo/empresa também, a Rolling Stones Records (de onde surgiria a famosa marca da "linguinha" da banda). Ao saber que Klein havia sido demitido pelos Stones, Lennon pensou: ótimo, ele está livre, agora vai querer gerenciar a gente - por incrível que pareça. Como alguns amigos do círculo íntimo dos Beatles diziam, assim funcionava a cabeça louca de John Lennon: 'se era ruim para os Rolling Stones, então seria bom para os Beatles'. E lá foram ele e Yoko conversar com Allen Klein para este se tornar o novo empresário dos Beatles...
Basta dizer que Klein, com sua boa lábia de "homem do povo" e trabalhador vindo da classe média (que Lennon tanto gostava), dono de um tosco senso de humor judaico e muita fanfarronice, não precisou nem de uns dez minutos para travar amizade com Lennon e Yoko, e entrar na mente deles com promessas de ganho maravilhosas.
Assim ficaram então as coisas: a entrada de Klein na jogada cingiu os Beatles em dois blocos: de um lado, Paul, insatisfeito e junto com Linda, defendendo que seu sogro deveria assumir os negócios da banda. De outro lado, John e Yoko, com os outros dois beatles George Harrison e Ringo Starr, se unindo a ele na opinião de que Allen Klein é que deveria se tornar o novo empresário. Eles tinham medo de que, pelo fato de Lee Eastman ter laços com o genro, ele fosse beneficiar mais Paul do que os outros, nos negócios da banda. E como estávamos em uma democracia, onde vence o lado mais numeroso, Paul, isolado, se viu na situação de ter que engolir a assinatura de um contrato com o mala Klein, de quem ele nunca gostou, e jamais foi com a cara.
Isso aprofundou o abismo entre eles, e não passou muito tempo depois disso, os Beatles anunciariam o seu fim, em abril de 1970.
Klein não lesou tanto os Beatles como havia feito anteriormente com os Stones, apesar de sempre garantir para si gordas comissões pelos contratos gerenciados na fase final da banda. Mas resta dizer que quem mais sentiu a "pancada" do rapaz talvez tenha sido George Harrison, logo após a dissolução do grupo, e ainda nos seus primeiros dias de carreira solo, quando lançou o seu mais celebrado álbum, a obra-prima All Things Must Pass (1970).
O maior hit desse disco foi a famosíssima "My Sweet Lord" - até hoje muito conhecida e tocada - e que se tornaria tristemente emblemática por ter sido alvo de um processo por plágio contra Harrison, que teria se inspirado em uma antiga canção de 1963, "He's So Fine", do grupo feminino The Chiffons, dos EUA. A polêmica acusação, com pesados gastos com o vai-e-vem em tribunais americanos ao longo dos anos 70, só chegaria a um termo em 1976, quando foi proferida a decisão de que Harrison era de fato culpado, na forma de "plágio subconsciente" - quando o autor não tem a intenção de copiar a melodia, mas que as similaridades entre ambas as músicas não podiam ser ignoradas, sendo que ele tinha o dever de "tentar evitar as semelhanças utilizando notas diferentes". E o detalhe mais cabuloso de tudo: a companhia à qual pertenciam os direitos da música copiada, "He's So Fine", havia sido comprada por Allen Klein. Que acabou, afinal, faturando parte do dinheiro pago por Harrison com sua condenação.
Klein morreu em decorrência de complicações do Mal de Alzheimer, aos 79 anos, em 4 de julho de 2009, em sua casa em New York. E pode-se dizer que uma certa parcela de pessoas que o conheceram não sentiu muita falta dele.
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