sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

UMMAGUMMA: MARCO DEFINITIVO DE TRANSIÇÃO DO PINK FLOYD

 

Mediante os festejos realizados neste 2023 que se encerra acerca do cinquentenário daquela que é considerada a obra-prima do Pink Floyd, o multiplatinado disco The Dark Side of the Moon, de 1973, me lembrei imediatamente de um outro trabalho deles sem o qual não teriam, de forma alguma, chegado àquele grau de perfeição que atingiriam anos depois. 

Ummagumma (1969) foi o álbum do Pink Floyd que fez minha cabeça na adolescência, e não saía da minha vitrola. Eu ouvia muito, em vinil mesmo. Dark Side veio depois, bem depois. Junto de outro clássico do mesmo ano, o 'In the Court of the Crimson King', do King Crimsom, foi o disco que me mostrou todas as nuanças e possibilidades do rock progressivo, foi o que me fez começar a apreciar o gênero. Ummagumma é o marco definitivo de transição do Pink Floyd, é o álbum de "desmame" deles em relação ao seu membro fundador e líder original Syd Barrett (guitarra e vocais), desgarrado devido aos excessos lisérgicos. É, também, o trabalho que os torna luminares de um novo gênero, que vai permear toda a primeira metade da década de 70 que se aproxima, reajustando o foco do grupo na direção de novos sons e possibilidades.

Syd Barrett

A despeito de alguns detratores, que o consideram um projeto meio perdido, confuso, e 'experimental' demais em alguns momentos - o próprio guitarrista e vocalista David Gilmour confessa que a banda estava indecisa sobre que rumos e estilos seguiriam na época, após a saída do enlouquecido Barrett, que ele substituiu - o álbum foi ganhando valor com o passar do tempo, a ponto de se tornar cult entre os mais diversos fãs da banda, e críticos em geral.

Com a saída do membro fundador Syd Barrett, em 1968, o Pink Floyd se estabiliza em sua formação clássica: da esquerda para a direita, Nick Mason (bateria), David Gilmour (guitarra, vocais - sentado), Roger Waters (baixo, vocais - em pé), e Richard Wright (teclados, vocais)


A seguir, alguns fatos marcantes sobre o disco:

- Ummagumma é o primeiro álbum duplo da banda. Em seu formato original, era composto por um LP ao vivo, e um gravado em estúdio. No disco ao vivo, constam registros de canções de discos anteriores da banda, em performances retiradas de shows no Mother's Club, de Birmingham, e no Colégio Comercial de Manchester, entre abril e maio de 1969. A faixa de abertura, "Astronomy Domine", vem do primeiro disco da banda, e é recriada numa versão mais pesada, uma verdadeira pancada sonora que inicia maravilhosamente o disco, onde a guitarra de Gilmour e os teclados de Wright expandem sensorialmente com notas estratosféricas o ouvinte mais desavisado, recriando uma verdadeira viagem espacial. "Careful with That Axe Eugene" é egressa de um compacto lançado em 1968, com "Point Me at the Sky" no lado A, e seria retrabalhada em uma outra versão para inclusão na trilha sonora do célebre filme Zabriskie Point, do cineasta Michelangelo Antonioni - aqui, ela também aparece bem pesada e melhorada, com destaque para o baixo potente e o trinado sinistro de Roger Waters. Em prolongadas performances, "Set the Controls to the Heart of the Sun", também comandada por Waters, vem do segundo disco da banda, bem como "A Saucerful of Secrets", em que Gilmour improvisa e substitui com sua voz o coro original da música em estúdio, o que geraria então uma boa impressão aos fãs de sua excelente extensão vocal.

Astronomy Domine

- Apesar de contar com as primeiras execuções mais longas e de caráter improvisado do grupo, o que muita gente não imagina é que Ummagumma demonstra simplesmente uma evolução natural desse perfil performático e progressivo do Pink Floyd, visto que mesmo na fase com Syd Barrett, a despeito das faixas psicodélicas curtas e bem trabalhadas das gravações nos discos, ao vivo o grupo chegava a jams com suas músicas que excediam as durações padrão do pop - vide uma versão da instrumental "Intersetellar Overdrive" e lançada em compilações e discos piratas, tocada no Bag O' Nails Club de Londres em 1967, com nada menos que 17 minutos de loucuras com Barrett na guitarra!

- O segundo disco, que contém as faixas gravadas em estúdio, é feito de composições individuais de cada membro, com contribuições esparsas dos outros nas gravações. Se destacam "Sysyphus", de Wright, bastante soturna e climática, com toda a sua atmosfera de piano e teclados assombrosos, a folk e campestre "Grantchester Meadows", de Waters, e o primeiro grande momento de David Gilmour como compositor, com "The Narrow Way".

The Narrow Way

- O nome do disco provém de uma pequena brincadeira entre a banda e seu roadie Ian Moore, para uma gíria comumente utilizada na região de Cambridge para "sexo". Ele costumava dizer para os caras do grupo, ao final de cada dia: "Agora tenho que ir para casa encontrar minha mulher para um ummagumma."

- Por falar em roadies, a contracapa do disco se tornou histórica por demonstrar, em uma foto, o poderio do equipamento carregado pelo grupo em suas turnês, em um caminhão ladeado pelos assistentes Alan Styles e Peter Watts. Na época, o Pink Floyd era considerado uma das bandas que tocavam mais alto no mundo pop, graças a sua sofisticada aparelhagem.


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